domingo, 9 de março de 2008

O sonho acabou

Nem para escrever
O meu sonho fica em pé.
Derrubei o meu sonho.
A quimera dos meus dias se desfez com dor cada vez que o sol se foi.
E acabei com o sonho.
Não dorme apenas a ilusão dos meus dias serem primavera em pleno inverno: estação desregulada, sem sintonia, fugiu, acabou.
Matei o sonho.
Quando levantei certo dia sem lágrima, nem riso, opulência ou força
Nem drama.
Raciocinei o sonho.
Descaso. Desprezo. Marasmo. Desânimo.
E os poetas descrevem o amor
E exultam a paixão
E sentem tanto...
Fantasia - nada sinto.
Vivo. Realizo. Banalizo.
Assim os dias não terminam em lágrimas.
Ou em prantos.
Sequer em dramas ou gargalhadas infames.
E as pernas levantam firmes o corpo no dia que amanhece.
Com a mente fresca e pálida enternecem-se meus tecidos e órgãos pela matemática dos segundos.
Mas há no meio um vazio que se não não seria deste mundo.
Quando se mata o sonho,
morre-se um pouco.
Medonho.
Nem falta faz porque é só falta tudo o que és.
A lógica enrijece músculos, tecidos, órgãos, pensamentos.
Robotiza o homem
Que não sabe amar.
Por que o que é o amor senão o sonho dos poetas?
Nem para escrever, mais presto.
O que há de resto senão a falta?
O nada.
Afinal, o sonho morreu.
Quem sou eu, então?
E para que os dias, sem as lágrimas?
E as noites sem estrelas?
E a energia que não há no chão?
Para que abrir as pálpebras
se é movimento repetido,
sincronia sem sentido, desnecessária?
Morreu o sonho.
Matei-o,
Fechem-se as pálpebras com as quimeras para sempre na terra.
Talvez haja nela ainda qualquer energia
Esperança... (resto de sonho?).

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