segunda-feira, 23 de junho de 2014

Corpo aberto

Se você tem o corpo aberto
Deve saber
Às vezes é melhor ficar quieto
Em silêncio
Às vezes é preciso fechar as portas
Passar concreto
Nas rachaduras
E ficar
Consigo mesmo e mais ninguém
À espreita
De interferência nenhuma.

Mas será possível?
Se o outro me atravessa
Me alcançam, seus pensamentos
Se sua língua me lambe as orelhas
De palavras meigas.
Saliva doce
Em minha boca seca
Enlaça-me o pescoço
De desejo.
Tira-me, o ar
Por longe que esteja.

terça-feira, 17 de junho de 2014

antimovimento
...
uma tarde de praia
sob sol de inverno
não se ouvem as ondas
nem nada aqui dentro
não importa
...
carros rodam lá fora
como sempre.
ainda bem que há lágrimas
quando os sentimentos já não tem onde se assentar
elas liberam uma vaga
uma cadeira vazia
pra sentar, ver o tempo
...

L.G.

silêncio

silêncio
: não é falta de assunto
é vaga em tarde quente
ar parado no tempo
um dia de dezembro
sem nada que fazer

esse silêncio
pode até ser triste
mórbido, escuro
pode ser punk rock
ou um moribundo
arrastando seus farrapos pelas ruas

silêncio que arde
que invade
sela as paredes da alma
e germina sem água
como sementes de cactus
no deserto nordestino

silêncio mudo
silêncio amigo
das pedras, dos rios, da pescaria
dos amigos de verdade
dos beijos iminentes
da morte, quem sabe

não tem palavra
não tem barulho
também sem lágrima
sem urro
sem o tumulto da incerteza
do desejo, o submundo

silêncio, me beija
deita comigo
depois penetra minhas valas
lava minhas falhas
e me faz parte sua, um resquício
qualquer de paz.

L.G.