quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Outra flor




Sou flor de papel.
Desmancho fácil.
O toque da mão me amassa,
Um contato mais ágil, me rasga.
O molhado me dissolve,
O perfume me mancha,
O tempo me desgasta.
Sou flor de papel,
Um desenho a lápis.
Só é seguro, contemplar-me.
Ao tocar-me,
Corrompe minhas faces,
Dilacera minha integridade.
No papel, retratada,
Estou segura.
Em outro formato e matéria,
Eternizada.
Mas se toca e apalpa,
Examina, aspira ou aperta,
O desenho deteriora.
Deixa de ser a flor que era.
Deixa de ser, o desenho,
O papel de outrora.
E a flor muda de feição,
Ganha outra história.
Pode mesmo continuar flor
Como pode desmanchar, sem sobra.

domingo, 18 de outubro de 2009

SOLIDÃO

Minhas gargalhadas continuam. Mas a essência do meu ser volta a ser água. Sinto-me uma ilha ao avesso. Mergulhada no choro, isolada do mundo. Não acho que as coisas sejam capazes de regressar ao que eram antes desta dor. Desta solidão. Mas, se esta solidão sempre esteve aí de alguma forma, não terei eu apenas constatado a dor? Algo se quebrou em mim. Sou só. Não há como remediar esta dor. Este cristal espatifado em mil e quinhentos cacos. Colados como num quebra-cabeça, tem aparência de intactos. Mas não servem pra nada. Não suportam o movimento pinçado dos dedos e nem o conteúdo líquido dentro. Solidão. Conseqüência e causa de uma dor que não passa. Que depois de instalada, não acaba. Nunca mais.

sábado, 17 de outubro de 2009

Quero o amor de Deus

Já não quero mais namorado, Quero amores.
Tenho namorado muito
E amado tão pouco,
E tido tão pouco amor!
Quero a emoção de compartilhar,
De sentir, de entusiasmar-me,
De zelar por alguém,
De querer bem.
Só quero o que é bom.
Quero o amor.
O amor de Deus.
Não quero o amor dos homens.
Não mais quero o compromisso,
A dor, a cobrança,
A ilusão da fidelidade.
Quero só a sinceridade
Do sentimento dividido,
Compartilhado,
Cultivado com cuidado
E afinco.
Quero quem me é querido.
E dele não quero nada mais
Que o comprimento que tomam
Os acontecimentos seguidos.

Banho de Sol "Giovana"

Linda mulher...
Foi assim que a vi,
Desde o primeiro dia.
Assustou-me tanta beleza,
Olhos tão verdes,
Cabelos longos ao vento,
Naquela onda típica das modelos.
Loira e de corpo perfeito.
Quem não se assustaria?
Mas o que me assustou mais,
Convívio adentro,
Foi a astúcia, a graça,
A leveza, a doçura,
O saber ser palhaça,
A inteligência,
O dom pras artes,
As diferenças...
De tudo o que por aí havia,
De tudo o que era comum.
Giovana não sabe de novela,
Nem comentar propaganda,
Faustão, então, nem pensar!...
(Às vezes faz falta um Shrek..., É verdade!),
Mas esta loira é assim:
Você olha e fica a pensar o que há
De errado com ela, ou contigo.
Tipo de mulher completa,
De mulher daquelas que faltam
Pra dar orgulho pra gente,
Que é mulher e quer ser
Tudo o que uma mulher pode ser .
Giovana é assim: tudo!
E também esta coca-cola toda!
- Deus nos ajude, pobres mortais!,
Apresentar namorado pra esta aí,
Dói até o pâncreas! -
Porque mulher reconhece
Uma bela espécime
E logo levanta as orelhas,
Antenada pra concorrência,
(Que aí, está claro: é imensa!)
Mas quando se conhece este ser,
Cheio de tanta virtude,
Um bichinho começa a roer
Dentro da gente.
A mesmice de sempre, o rotulado,
O que é tido como típico,
O que todo mundo faz
E é ordinário,
Começa a ruir.
Giovana é modelo de mulher,
Dessas que a gente quer ser,
Linda, inteligente, determinada,
Um pouco brava também,
Que afinal também é de carne!
Dói em minh’alma só em pensar
Não ter na minha vida todo dia
Sua piada, sua sagacidade, sua luz
Pra tudo clarear!
Mesmo no breu, mesmo na dificuldade,
Todo dia, com ela, o alvará
É pra banho de sol.
Banho de Sol "Giovana".

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AGRADECIMENTO

A meus pais:
Por tudo o que me deram:
Suas vidas, ou mais...
A energia que os movimenta
Para o trabalho, para o dia-a-dia,
Para o sonho e a magia
 Do amanhã em toda manhã.
A meus pais, por esta casa.
Como poderia a mim, estar aqui,
Em meu lar, minha morada,
Sem o auxílio de meu lar primeiro,
De minha original, casa?
Obrigada,
Por toda ajuda até aqui!
Por, de minha filha cuidáreis
Como se de vós fosse saída.
Obrigada, queridos,
Pelos dias suados,
Pelas noites em claro,
Desde que nasci.
Obrigada pelos estudos,
Pelos agrados,
Pelos quitutes preparados
Com amor sem igual.
Obrigada, meus anjos terrenos!
Vocês, sim, verdadeiros,
Na retaguarda de meus passos
Certeiros ou em falso.
Mas, de tudo o que me deram,
(Apesar de incomensurável valor,
O amor dedicado),
Incontestável alegria,
Dão-me estas paredes!
Erguidas em volta de mim,
Guardam-me e libertam-me!
Real presente de amor!
Sem vós, muito eu demoraria
A alcançá-las...
Obrigada, minha família!
Meus pais amados, que, um dia,
Saberão o quanto sou grata!
Logo terei, de idade,
Os trinta e três anos de Cristo:
Este amigo querido e divino,
Que vos destes a mim como pais
E a vós, eu, como filha.
Conduzido é, meu coração,
Na vossa companhia e proteção.
São meus guias!
No vosso exemplo, persisto.
Jamais me entrego, ou desisto.
À vossa sombra, abandono-me,
E meu compromisso é em honra
Do sacrifício de vossas vidas.
Obrigada!

Defeitos do que penso

Tudo terminou quando eu parti e não deixei de bagagem a saudade a quem eu deixava. O sonho do sonho perfeito acabava aos bocados, à medida que a distância aumentava, entre o que eu havia sonhado e o que se realizava. À medida em que diminuía a estrada que me reconduzia ao meu mundo. Há mistérios tão profundos que não são vistos. E sensações tão planas que se julga impossível não desvendá-las. Mas tudo é tão complexo! Às vezes nem o mistério é tanto que não possa ser explicado, nem a sensação é tão verdadeira quanto nítida. Mas como segregar os defeitos? Dos maus julgamentos, que instintivamente fazemos, e das doces ilusões que, inutilmente, plantamos? No céu de minhas nuvens havia anjos. Ruivos nos cabelos e castanhos nas tez curtidas. Mas nas nuvens não há castelos nem príncipes. Como segregar os defeitos que sempre existem no que queremos ou no que julgamos? Como ser menos humanos e não confundir os medos ou os desejos com os passos dados e os segundos passando, contando recados? Terá ruído o castelo ou finalmente se revelado o engano? Anjos não são vermelhos. Seus cabelos anelados refletem o dourado e suas mãos hábeis manipulam não a percussão, mas a harpa. Será este um julgamento? Ou um momento? Uma ilusão pelo medo desenhada? Como segregar os defeitos, as armadilhas da própria charada?

Quem inspira minhas lágrimas sou eu.

Os pingos molhados caídos
Foram por ti, apenas inspirados.
Porque as gotas foram derramadas
Em vazão dos sentimentos sortidos,
Há muito represados.
Quando choro ou sorrio,
Em silêncio ou balbúrdia
É sempre um assovio.
Um ar soprado de dentro
Numa tentativa de música.
Sempre há nele um motivo,
Um tema, um título,
Mas sou sempre eu:
Assim mesmo, ou reescrita.
Às vezes cantada,
Às vezes derretida
Em salgadas lágrimas
Ou saliva.