sábado, 26 de julho de 2014

amor aerado parece
que perde a força, perece
e a prece ronda 
em vento, a boca
até que o eu te amo 
em silêncio
padece.

Dias noturnos

Tem dias que te amo
Dias noturnos
Cheios de oceano
Negro e profundo.
Dias imensos
Em que me atropelo
E sonho esquecer
Este amor vez em quando
Que faz que me abandona
Mas só engana.





quem ama quem

vc não me ama
eu também não amo você
que é que tem
a gente pode começar um jeito novo de amar 
movido pelo desejo 
de não amar um ao outro
em momento algum

eu não te amo
você tão menos me ama
não tem importância
vamos assim desta vez
pra ver se o desamor morre amor
e a gente, afinal
sobrevive ao fim

eu não te amo
nem tão pouco me amas também
você que já amou tantas
e eu que jurei ser a única
de alguns eternos amores
que o tempo levou

o que é que tem

a gente muda de ideia toda hora
portanto, pode ser
que amanhã a gente seja unha e carne
corações grudados
como em desenho na árvore

vamos neste novo jeito
(amar sem amor)
jurando jamais dar vazão
às loucuras do coração
pra ver se, por fim
a gente muda o bordão

(infelizes para sempre).

LG

domingo, 20 de julho de 2014

melodia mínima

nessa melodia mínima
é impossível cravar versos de peso
impossível criar nesse compasso repetido
em que o som vai-e-vém em curto espaço.
minhas queixas não acham brecha
nem estacionam, devaneios.
ficam no ar, como poeira

no ar, no ar.

como ideias que não saem da cabeça
ou amores que só existem no papel.

eu quero um caminho extenso
pra andar meus desejos
desenhar pensamentos
enlouquecidos e sibilantes como o vento.

estica essa frase musical um pouco mais
pra eu caber dos pés à cabeça
e não tenha que me esconder como uma lesma
imiscuir-me qual inseto indefeso.

L.G.

o amor

o amor pega a gente de fininho
(não ouve a razão)

amor, a gente sente quando deita abraçado
e quando respira junto.
quando o sabor da boca do outro
saliva na boca da gente

o amor é um troço de louco
: tanto faz feliz como triste
tanto é motivo pra vida
quanto pra buscar a saída

amor, então, quando parte
mata matado uma parte
não por um tempo apenas
mas pra sempre

(só quem já perdeu um amor sabe
o tamanho do corte
só quem chorou o fim pode
compreender essa morte).

um amor às vezes não fica
às vezes não tem coragem
outras vezes até repica
mas, então, usa disfarce

ainda assim tenho dito
: É AMOR
e nenhuma outra palavra que o vista
retira-lhe significado.

L .G .

se eu não escrevo a minha dor

se eu não escrevo a minha dor
ela me corrói
e minhas forças se moem
como sementes de trigo
num moinho de vento.
moo a mim mesma
trecho por trecho
e acabo por ser
o retrato de um semblante que era meu
numa moldura de gesso

se eu não escrevo a minha dor
enlouqueço - sinto
esmoreço - deixo
(perco o eixo e a eira
sou toda dor
toda noite
escura e erma.

um beco solitário
uma cabeça de gado
na parede do rancho sobre a mesa.
o silêncio completo
de uma encruzilhada
numa fila de pinheiros).

se não escrevo, pelo menos
pra pintar minhas lágrimas de palavras
e minhas tristezas de beleza
sinto como se já não fosse eu
: tudo em volta, delírio
sendo real só o dentro
(com seu universo disperso
entre o fim de tudo, e o começo).

sinto como se o dia
jamais fosse nascer outra vez
e o coração não batesse
: pele gelada de serpente sobre minha pele
e abismo sobre meus pés
numa descida de bicicleta

e então respiro o ar gélido das ruas de antigamente
e me ofereço ao vento

:vê, pai! sem as mãos!

L . G .

brilha a lua

brilha a lua
(não sei se nova
não sei se cheia)

brilha branca
romântica
muda

quanto mais alta
mais uivam
cães e corações

bela lua
(!) como é lúdica
como ilude

lua lua lua
dos sertanejos
dos astronautas

dos cabeleireiros
mulheres grávidas
(...)

dos enamorados

brilha
bela, única
(no manto da noite).

L.G.

domingo, 6 de julho de 2014

a partida
parte-se em duas
: a porta que se fecha
a estrada que se abre.
e é um descampado nu, selvagem
os corredores gramados e extensos
as árvores enfileiradas na beira
e bichos pequenos escondendo
do sol implacável.
o silêncio...
delicado silêncio da natureza
a cantar nos ouvidos uma brisa
um piado
...
aquele vento
...
que só em um coração partido cabe.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Residência de amor

Estou cheia de amor
Todos os compartimentos e fendas
Todas as arestas e portas
Toda insistência e desistência
Que carrego e suporto
Por amor, com amor.
Respiro e colho
Com mãos suaves e sujas de terra
O amor que brota e infesta
Todos os cômodos
Toda minha residência.

como esquecer

pensa que se esquecer é assim?

esquecer é pra poucos
é para os que sabem sorver gotículas de vinho do Porto
degustar uma iguaria

esquecer não é coisa que se faça com demasiado ímpeto
não é como morder uma maçã inteira
nem gargalhada repentina

esquecer é delicado
é suave
diário

é pra quem tem real coragem
- não pra quem se põe correr à deriva
disfarçando o pavor.

oração

dormir uma noite completa
eu agradeço
porque se desenha depois dela
dia manso
coração sereno
quem sabe até uma chuva leve
pra alimentar a represa
ou um presente dos céus
em forma de gente.
eu sinto
e creio
que Desse lugar vem aconchego
pra tais passos, tropeços
em detalhes pequenos que se amontoam com delicadeza ao redor
e mini grandes surpresas
que me socorrem
como uma dádiva Maior.
agradeço.

acordar entre flores

vou fingir que não é comigo
fechar os olhos, fazer uma prece e pensar em coisa qualquer que me leve
daqui pro infinito
pra um lugar sem nomes
cicatrizes.
vou fingir ser outra
ter outra vida
e acordar entre flores
lírios , tulipas.
quando sinto você, sinto nos ouvidos
um balanço de rede
zumbindo.
mas se pretendo esquecer
finjo não entender
invento ser outra
e me largo na brisa
de um tempo sem ontem, sem amanhã.

palavras pra quê

as palavras
todas servem
todas querem
dizer
algumas mentir
outras urrar

as palavras
não são feias
as palavras não são feitas
de proibido
: é permitido
expressar

pra o que quer que seja
estão lá
dispersas no tempo
ou na garganta
no cérebro
ou na lembrança

uso palavras
sem pensar
uso palavras
com pesar
uso palavras pra morder
palavras pra beijar

há palavras de morrer
palavras de matar
palavras pra criar
palavras pra descer
o pau
(palavras de baixo calão)

mas são as palavras hipócritas
o verdadeiro palavrão
não importa que se diga bosta
ou coisa ainda mais suja
a mentira e o engano, sim
são vocabulário chulo.