se eu não escrevo a minha dor
ela me corrói
e minhas forças se moem
como sementes de trigo
num moinho de vento.
moo a mim mesma
trecho por trecho
e acabo por ser
o retrato de um semblante que era meu
numa moldura de gesso
se eu não escrevo a minha dor
enlouqueço - sinto
esmoreço - deixo
(perco o eixo e a eira
sou toda dor
toda noite
escura e erma.
um beco solitário
uma cabeça de gado
na parede do rancho sobre a mesa.
o silêncio completo
de uma encruzilhada
numa fila de pinheiros).
se não escrevo, pelo menos
pra pintar minhas lágrimas de palavras
e minhas tristezas de beleza
sinto como se já não fosse eu
: tudo em volta, delírio
sendo real só o dentro
(com seu universo disperso
entre o fim de tudo, e o começo).
sinto como se o dia
jamais fosse nascer outra vez
e o coração não batesse
: pele gelada de serpente sobre minha pele
e abismo sobre meus pés
numa descida de bicicleta
e então respiro o ar gélido das ruas de antigamente
e me ofereço ao vento
:vê, pai! sem as mãos!
L . G .
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