segunda-feira, 24 de março de 2008

Café com leite não vale

Faz tempo que não escrevo.
É este caderno velho que me desanima.
E as mesmas idéias velhas voltando.
Não tem aquele conto que eu não escrevi
Da velhinha que corre pra pegar o ônibus,
E do rapaz baiano que não consegue calar a boca.
E da mulher magra que pegou o trem,
Reclamando que homem não devia existir.
E aquele beijo caloroso na turbulência do metrô,
E o menino assaltante
Que eu assustei com os olhos,
E a paisagem ficando na janela do ônibus passando,
E o sono acordado do ônibus que sacoleja
Nas mentes mal acordadas dos executivos.
Tem também aquilo de quem não entende poesia
E a cumplicidade do silêncio compartilhado,
Em tardes quentes,
Entre amigos,
Cansados de gentilezas.
Tem tanta coisa a ser dita sobre a vida.
Sobre a imagem refletida no espelho,
Sobre o vermelho do céu com o sol se pondo
E a senhora que grita na escadaria da Sé:
_Meu senhor, minha senhorita...
E o farol se abre...
São segredos,
Multidões confrontam-se nos cruzamentos,
Enternadas.
Tanta coisa que eu não lembro.
Como tijolos,
Cimento, areia e água.
Café com leite não vale.

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