domingo, 9 de março de 2008

Correnteza

A paz
Se constante, é como a água:
A vida morre parada,
degenera o que está vivo,
Perde a graça,
A alma,
Fica turva e poluída.
Fica assim: sem saída,
encurralada na própria calmaria.
Sem alegria, nem cor, nem amor.
É só estática.
Nem dor, nem ar, nem tom, nem clima
Só utopia física.
Deve ser por isso que Deus inventou o diabo!
Dentro da sua maior sabedoria,
infinita na ventania que varre
e no calor que dissipa,
já ele conhecia o segredo do projeto: movimento.
Arquiteto dos edifícios intrínsecos dos seres que criou
e da vida de que rodeou o homem,
conhecedor do pensamento
e criador de seus segredos disformes,
pincelou-o de fantasia,
de um pouco de doença,
de debilidade, afazia
e brochadas de crença.
Tudo misturado,
ficou louco, tresmudado.
Nem mais certeza, nem oco:
suficiente para movimento, para vida.
Movimenta aí, mesmo quem está no lugar, parado...
Te pega de mansinho ou acelerado, tanto faz.
Nem ela é a paz.
Paz é um sentimento remoto
e uma presença involuntária da própria alma.
É o desejo de todos,
mas quem a tem nem a nota.
É tão parada que não pesa,
tão serena, que não arde,
tão constante no instante que toma,
que nem se percebe quando passa,
que se sentiu: A paz.
E viver é correnteza de rio ora manso, ora revoltado.

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