segunda-feira, 26 de abril de 2010

A ponte do homem comum



Não adianta...
O trabalho não é uma droga!
É uma página do dia
Que se vira à tardezinha
Pra dar lugar ao clímax
Da página seguinte
O trabalho que é fuga
Não serve àquilo que é
Não enobrece,
Não evolui o ser...
O trabalho é meio, é ponte
E liga dois lados
O intuito é atravessá-los
É a comunicação.

Que saibam...

Vou escrever para meus pais como nunca escrevi. Para que minhas palavras sejam meu retrato e para que, com poucas delas, eles possam partilhar de minha intimidade, tornando-se meus amigos.
Primeiro, quero dizer-lhes que os amo.
Que quando era pequena, achava meu pai o homem mais lindo do mundo.
Que precisei tanto da minha mãe, quando sofri minha primeira dor de amor, e fiquei muito feliz, porque ela estava ali.
Quero contar que já fui várias meninas. Que vivi muitas coisas, tenho tantas histórias.
Queria dizer que recordo feliz o aconchego da cama de casal cheia de gente, aos domingos, com eles, com meu irmão e comigo.
Que gosto de lembrar dos dois a beijarem-se, pela manhã.
Quero que eles saibam que sinto falta dos meus avós.
Que meu pai saiba que até hoje me emociono ao lembrar o cheiro de sua pasta de barbear de madrugada...
E , minha mãe, que saiba que eu tenho medo que ela se vá. Que, quando criança, e ainda hoje, rezo em silêncio quando ela tem dores de estômago e de cabeça.
Quero que meus pais saibam que eu tenho medo de tudo... tudo!
E também que eu gostaria de cuidar deles, quando ficarem velhinhos.
Quero que minha mãe saiba que me orgulho dela, mas que também a quero feliz, com saúde.
Que ela saiba que é importante. Pra mim, pra todo mundo...
Quero que meus pais saibam que sou tão fraca... Mas sou feliz também.
Que às vezes sou amarga, mas sou irônica e perseverante.
E sou uma revolucionária.
Cheia de coragem.
E de medo, medo, medo...

6 anos

Gosto de sabê-la
Tão separada, independente
Felizarda por se ter e se dar
Com tanta propriedade
Ela é linda demais
É minha princesa querida
É meu amor, minha vida
Minha companheira e amiga
Devolvendo-se a mim
Naquilo que mais vale
Ela é minha menina
Minha estrela guia
Meu deságüe
De bondade
De magia
De coragem
Minha melhor companhia
Minha melhor parte.

A criança, o pai, o adulto

Tão difícil entender o que se passa...
Como se estraga quase tudo
Numa fala ou num gesto?
O que há de errado?
Como manter o equilíbrio
Quando a questão é inconsciente
E se perde o domínio de si?
Já que, do outro, é ilusório, passageiro,
Transitório, um piscar de olhos?
Como voltar no tempo
E desconstituir um mal feito?
Restabelecer a harmonia,
O momento perfeito?
Como manter o carinho,
O amor, o entendimento?
Que manifestações surgem com o obscuro?
Por que existem dois em um?
Mais de uma personalidade?
A criança, o pai, o adulto?
Em apenas um ser, tantas idades?
O que há comigo? Conosco?
Será um enrosco, o obscuro...
A obsessão, o absurdo?

"Statu quo"

O que será o barulho?
O choro que não cessa?
A tristeza, a consciência
Da solidão persistente?
Por que o desequilíbrio que humilha?
Que afasta a linha,
O eixo ideário?
Algo em mim, em ti,
Nos afasta enquanto nos une.
Será o medo, a posse,
O ideal de controle?
O pai e o filho?
O grito ou o choro?
A predileção à tristeza
Que à indiferença?
Ou a procura da indiferença,
Mais garantida fonte de tristeza?
Por quê?
Talvez só a ânsia de restabelecer
O “statu quo ante”
De apagar a discórdia,
Dissolver da memória
A inglória confusão.
O sonho perdido num instante
E que jamais torna.

Lago castanho


Um lago à frente da janela
Caminho a seu encontro
Nele boto os dedos dos pés
Estremecidos pelo gelado da água
Depois os pés inteiros, arrepiados, fugidios
Sinto um calafrio atrás das orelhas
Começo a andar
Os calcanhares mergulhados
Observo a cor de barro
À medida que dou meus passos, a terra espalha
Dilui na água parada do lago ancorado na montanha
Expondo sua cor castanha e brilhante
Não é, a água, transparente
É autêntica,
Barro e alga e verde
E folhas e galhos imersos
Todos componentes e anversos
Do profundo teor de um universo singular
Caminho até a água alcançar os joelhos
Sinto os pêlos eriçados no corpo
A barra das calças encharcadas
E em minh’alma cria-se a expectativa da completa imersão
Da descoberta de uma nova dimensão
Que o mergulho total trará
Mas apesar de seguir em frente
Passo após passo à espera
De sensações extremas na pele
Nada mais se altera
Segue letárgica a empreitada
Vislumbro a outra margem do lago
Cada vez mais colada
A cada instante, o outro lado da montanha
Mais se aproxima de meus passos
E o entusiasmo do mergulho inteiro
De todo meu corpo e cabelos
Não se realiza
O lago é raso
Sem segredos, magia
Atravessei-o em estreitos passos
E as revelações que ansiava
Em passadas ensopadas e curtas
Não vieram, abstiveram-se
Porque o castanho daquelas águas
Não o era porque eram fundas
Mas porque eram rasas e com poucas passadas
Todo o submerso mostrava as caras
Porque era pouco
Não era fundo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Páscoa

Precisei mudar.
Não porque quis com aquilo que se diz vontade, mas porque quis com algo mais profundo, mais condizente com a essência de Ser, que é a sobrevivência, a necessidade.
Mudo todo dia e sempre, mas mudo mais vezes que outras, e não por querer, -ressalto novamente -, mas porque assim é o mundo, assim é comigo. Este é, aqui, meu assunto.
O que se renova sendo o mesmo, a história temperada de novo enredo, mas que ao final é sempre igual.
Intensa, lúdica, ideal... Será a imaginação clamando por asas? Será o desassossego da alma aprisionada em afazeres, em marasmos?
Ou apenas os deuses traçando roteiros inesperados, em que, sou eu, todo o elenco?
Preciso mudar agora, já.
Não porque queira, haja vista que em mim há apego no que fica, há o conforto de estar.
Mas porque preciso. Dos passos, dos ventos, das novas cores e ares e de fazer dos mesmos lugares, novidade.
Porque só o que nasce será capaz de renovar em mim a vontade, que ora me enchia de vida, mas que agora se esvai.
Parte de mim, e esvazia-me. O que resta é necessidade.
Não há escolha. Com ou sem coragem, é na proa o lugar de quem guia o barco.
Assim, mudam-se os rumos, pra evitar colisão, mas a paisagem, apesar da tempestade, permanece: Água que rodeia! Mas há céu, há borboletas...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Instante

Eu sabia que ia ser difícil. Só não sabia que seria difícil por tanto tempo. Quanta sorte de coisas ocorreram... Todos estes anos... Lágrimas escorrendo, mesmo quando não. Sorrisos também, mas todos com algo a menos. Sabia que seria duro, mas não que durasse tanto.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Areia movediça





Não entendo como foi tudo acabar assim, o que parecia tão quente não ter mais nenhum calor. É estranho também que eu te tenha esquecido tão já. Uma pedra sobre você, agora que já não tenho lágrimas nenhumas. Também não sei porquê. Chorei-as todas em uma semana. Agora já não posso. Já não as posso alcançar. Mergulharam na areia movediça das expectativas não consumadas. E não as olho mais. Assim, não as posso chorar na ausência da lembrança, como se nada mais houvesse, nem o que lembrar. Mas isso é porque a dor cobriu de cal a doçura dos momentos perdidos para que não doam mais. E para que eu possa seguir dona de mim, sem olhar pra trás. Para não dizer que nada lembro, permito-me lembrar a frieza de seus olhos e a dureza de suas palavras a justificar os olhos frios e a partida repentina. Este é o fato desconexo de seus pesadelos: a improvável despedida que sucedeu isenta do seu pesar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O quê

Suco de laranja concentrado
Sem açúcar
Purê de mandioquinha
Lâmpada clarinha,
no abajur
Um ursinho
Filmes gravados
Guardanapos usados
Beterraba ralada
Temperada com limão
Lábios sempre molhados
Cheiro doce de maçã
Chocolate meio amargo
Sorvete “diet”
Cinema atrasado
Direção inusitada
Certeza de nada
Só emoção
Desenhos, palavras
Beijos açucarados
Abraço
Tesão
Latido estridente
Parada minuciosa
Certeza imprudente
Falta amarga
Parte o coração