segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lago castanho


Um lago à frente da janela
Caminho a seu encontro
Nele boto os dedos dos pés
Estremecidos pelo gelado da água
Depois os pés inteiros, arrepiados, fugidios
Sinto um calafrio atrás das orelhas
Começo a andar
Os calcanhares mergulhados
Observo a cor de barro
À medida que dou meus passos, a terra espalha
Dilui na água parada do lago ancorado na montanha
Expondo sua cor castanha e brilhante
Não é, a água, transparente
É autêntica,
Barro e alga e verde
E folhas e galhos imersos
Todos componentes e anversos
Do profundo teor de um universo singular
Caminho até a água alcançar os joelhos
Sinto os pêlos eriçados no corpo
A barra das calças encharcadas
E em minh’alma cria-se a expectativa da completa imersão
Da descoberta de uma nova dimensão
Que o mergulho total trará
Mas apesar de seguir em frente
Passo após passo à espera
De sensações extremas na pele
Nada mais se altera
Segue letárgica a empreitada
Vislumbro a outra margem do lago
Cada vez mais colada
A cada instante, o outro lado da montanha
Mais se aproxima de meus passos
E o entusiasmo do mergulho inteiro
De todo meu corpo e cabelos
Não se realiza
O lago é raso
Sem segredos, magia
Atravessei-o em estreitos passos
E as revelações que ansiava
Em passadas ensopadas e curtas
Não vieram, abstiveram-se
Porque o castanho daquelas águas
Não o era porque eram fundas
Mas porque eram rasas e com poucas passadas
Todo o submerso mostrava as caras
Porque era pouco
Não era fundo.

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