sexta-feira, 27 de maio de 2011

Folha que cai


Tudo como um sonho. Inspiro profundamente e há um cheiro tênue daquela flor noturna intensa, que aos poucos se esvai, com o dia que nasce. Tudo torna à claridade. A névoa do amanhecer ainda anuvia a vista, anestesia as sensações oblíquas. Mas a revelação se anuncia. E, ao redor, a magia imprescindível ao enfrentamento do escuro, cai como uma folha seca. E ninguém nota. Depois do raiar do sol, é só mais uma folha na terra, depois do seu dia de estrela. E o essencial se modifica. As ilusões da noite tornam-se pequenas e desarraigadas do dia.
E, depois da magia, o que fica? A visão. Há coisas que vão, há coisas que ficam. Não importa quantas folhas caiam, desprovidas de vida.
Mas logo virá outra noite, outros sonhos e aromas. E no percurso noturno, hei de convencer a mim mesma não sobreviver sem uma única folha escolhida, verdinha e tenra, pendurada entre as outras. E haverá juras e ameaças de morte. Até que de novo amanheça. E novamente não haja lágrimas, nem ilusão, nem outra dimensão necessária além desta.
Poeta... Um ser incorrigivelmente teatral.
Os sentimentos são estações do tempo, que ele atravessa.
E se sobre elas há luz do sol, nada o abala.

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