Quero fazer uma poesia sem rimas, sem nenhum som, nenhuma lógica, nenhum pensamento. É possível fazer uma poesia-retrato? De momento? Como uma onda que quebra na areia, como aquele instante em que se sente ser a mais bela e a mais triste? É possível um poema daquele escuro minuto em que se fecha os olhos e se pede ao Universo um novo mundo, numa noite de réveillon? Eu quero um poema tão doce como uma música que encanta, apaixona, eleva, desperta na gente um transcender, uma amplitude inimaginável. Quero um poema que revele mais proximamente a delicadeza de um amor que nasce e nem sempre se materializa. Um poema é sempre uma tentativa de alcançar o mais profundo do ser, mas que, pra adentrar, não precisa cavar buraco, apenas apropriar-se de detalhes e retalhos da rotina. As florzinhas daquele vestido branco, molhados de água salgada, enquanto se pedia à Janaína a transformação de tudo. A solidão daquele copo plástico tocando os lábios com champagne originalmente francesa. O toque dos dedos viciados nos anéis dos cabelos novamente enrolados. Um olhar furtado, uma voz macia. Um cenário desconhecido, um planeta revisitado em sonho. Fazer um poema nublado como as imagens em sono, misturadas, tensas, ecléticas. Um poema perfeito e intacto como um amor platônico.
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