A vida é maior. De todas as coisas e sentimentos, lembranças e pessoas, mágoas e pensamentos, dores, lamentos, amores. A vida sobressai. Sucedem-se os dias e as obrigações, as refeições todas e o itinerário da sobrevivência, dos cuidados mínimos diários. Conforme a vida segue, indiferente à nossa disposição de viver, o que fica em torno torna-se detalhe, apenas adornos esquecíveis. Permanecem conosco os motivos, algumas nuances e neblinas, aromas e idéias. Mas nem se sabe ao certo quais. A memória seleciona aleatoriamente os momentos que quer guardar. O mais relevante fica pra trás, as companhias imprescindíveis nos deixam, nossa essência se modifica. Porque a gente quer pensar que o que nos faz vivos é o amor, mas a gente vive porque a vida é maior. E isto é tão simples e animal, que a gente não se conforma. Mas a vida sobreleva-se até ao sentimento mais denso e às dores mais fundas. A gente quer justificar a vida, dar-lhe algum sentido. Mas a vida em si é o objetivo e, continuar, à deriva dos acontecimentos, sem escolha ou parada, é um enigma impossível de se desvendar.
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