domingo, 23 de agosto de 2009
AXÉ
Horas solitárias e doloridas. Lágrimas. Lágrimas amigas que desanuviam meu peito e liberam meu ser para sensações outras, que não esta dor sem causa. Às vezes choro. Pela manhã, quando me troco. Quando me dispo de minhas vestes e me toco. A pele fria. Às vezes choro e o choro é fundo. É só uma dor. Sem explicação. Sem motivo remoto. São lágrimas desesperadas, desconectadas do real, abismadas no vazio. Lágrimas salvadoras. Irrompem, com suas gotas, a dor bloqueada, as dores rotas, amassadas, sufocadas pela razão. Porque neste país e nestes tempos, é fora de moda ser infeliz. Axé para os brasileiros! E, no pensamento do cidadão, a teoria de “O Segredo”. É fora de moda ser triste. A maioria das emoções não mais existe. Qualquer que seja o estado de espírito, a alegria impera, sob o som do AXÉ, o torpor das “ervas”, a distração dos churrascos com cerveja. Antes podíamos ser tristes. Cantar a dor, transpor os limites do agradável. Hoje ninguém mais resiste. Tudo deve ser editado. Nossos intelectuais afastam-se, apavorados. O lema é a positividade, a risada. O “amasso”, a música animada. Ninguém mais canta o desencanto. O desalento. A tristeza. O questionamento. A dor. O buraco de ser humano. De ser pensante. Até os intelectuais sorriem. Até a boemia é “pra cima”. O que houve com o Romantismo e os poetas das antigas? A que se reduziu o homem com seu sorriso implacável, permanente, e seus mil e quinhentos amigos? É mal cantar a tristeza, o mal, a avareza, o egoísmo, a corrupção? É mal incomodar-se num país como o Brasil? Em que o que mais vale é sorrir, à imagem da perfeição, com axé geral nas rádios.Quero todos os nuances. Ser imperfeita.
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