segunda-feira, 24 de junho de 2013

Em paz

A paz... uma desconhecida.
Eu quero morrer em paz. Porque em vida...
O corpo fervilha, o coração pulsa, os olhos piscam, os punhos: em punho, em riste.
Eu não quero morrer.
(Eu só quero morrer).
Quero correr por entre as trevas do ontem. Sumir nas entranhas do desconhecido.

Eu não sei viver em paz. As paixões me castigam: o corpo, este inimigo da paz - este voraz combatente da tranquilidade e da boa consciência - treme. O suor pinga.
A cabeça lateja mais numa veia. De tal maneira que, hora ou outra, pode bem explodir.
Massageie minhas têmporas com força.
Não é suficiente um toque ou um carinho. Não. Mastigue com dedos frios esta veia latente, latindo na minha mente como um cachorro raivoso, uma cadela no cio.

Agora torça meus cabelos entre suas mãos, puxando um pouco o couro cabeludo. Estique minhas ideias. Dê a elas um pouco de sentido, uma justeza qualquer, nem que sejam os fios comprimidos neste puxão quase agressivo.
Não consigo ter paz. Não consigo.
Penso no amanhã com furor e mágoa.
Queria só o agora. O agora para sempre

Ê mundão véio

ê mundão véio!
eita vida besta, meu Deus!
tanta gente que vem, vai, canta
tanta gente que dança, que cai

eita mundão besta
vida tensa, intensa
em trilho que vem e vai
gente que entra e sai

lembrança que alimenta o pensamento
bem querer, mal querer
coração de Che Guevara
conspiração do viver/morrer

mundo véio de guerra
cheiro de terra
vento de outras eras
tempos de não ser

eita mundão, me deixa
numa brisa qualquer, perene
com cheiro de erva
cor de entardecer.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Por um momento

Por um momento, o amor é pleno
E tudo em mim é silêncio
Tudo em volta é sereno
- por um momento - breve nevoeiro
Tudo em nós faz sentido
Não há medos, meio-termos
Mas é um momento apenas
Um instante, um delírio
Por um momento, você me olha
Você me alcança
Por um momento, esta dança
No pôr do sol da esperança
E este beijo
Entre as lágrimas da chuva
É completo
E tudo em paz é veneno
Tudo ardendo é silêncio
Todo segredo é sarcasmo
Todo amor é pequeno
Por um momento, você me olha
Por dentro.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Essas linhas

Há duas linhas embaixo dos meus olhos. Duas linhas delicadas, paralelas. Em algum ponto elas tocam uma na outra, como rios que correm para o mar. Elas olham pra mim, dos meus próprios olhos, e me dizem: lá se foi quase meia estrada. Duas linhas finas e curtas. Duas linhas tênues, mudas – não precisam de palavra alguma pra dar seu recado. Há duas linhas embaixo dos meus olhos. Duas intrusas, travessas, duas meliantes, melindrosas, obtusas. Linhas duras sob pálpebras tenras que veem como aos seis anos de idade, com imensa ternura, o vão da existência. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

RAREFEITO

Rarefeito
Seu efeito em mim
E os feitos
Do pensar e do sentir
Com moléculas de ar
Entre as veias
E espaços vazios
Entre as letras
Rarefeito
O ar das suas narinas
Nas minhas
Rarefeito
O som dos seus versos
No ar
Rarefeito o mar
Como a neblina
O pensamento por aí
Como o pulsar
Das batidas do seu peito
Nas minhas orelhas
E a melodia do seu pensar
No meu vagar
Rarefeito
Raro
Efeito

Ser, estar.



LÁRI GERMANO