sábado, 11 de maio de 2013

Quantos temas há pra se falar

Não quero falar sobre mil temas, quantos temas há pra se falar
As coisas que em mim navegam são sempre as mesmas, enfim sou o mesmo mar
Com estas letras desenho versos, sob efeitos inversos de sombra e de luz
A exemplo de montes e horizontes repetidos em telas sem número
Sob prismas diferentes e influências similares, tão párias
Vou desenhando meus lemas e as cenas da estrada têm idêntico fundo
Que me importam novidades, variedades, palavras afastadas do meu habitat
Se carrego, eu e a humanidade, os mesmos dilemas e os mesmos pensamentos
Sentimentos, destroços, tormentos e sustento desde os primórdios
Quero o simples fim, enfim, flor, amor
Quero as notas óbvias repletas de suave cor
Quero canções, doces canções, doces sons
Posso até falar de Marte, astronauta, disco voador
Então cogitar a morte, a saudade, o coração
Por mais longa a viagem na viagem da imaginação
Não me importam os diálogos com Sócrates, Sartre, Platão
Se não houver neles o choque entre a alma e a razão
E enunciado mole e suave como em Vinícius e Tom.

Lári Germano

Um pensamento

Um pensamento voando ao vento sem direção
sem temor, nem tormento, sem tempo, nem chão
um amor, um alento pro peito ardendo em dor
um momento ao meio, recheio de sonho
voa ao ar
voa o mar
voa as primaveras
libertà!
no caminho entre a mente, o sempre e o amanhã
o semblante, a semente, o horizonte em sombra
e os elos de gente, de coisa e de sentimento
que navegam por entre segredos que vão
voam mais
voam quais
voam as quimeras
liberdade.

Lári Germano

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Gaiola acortinada

Vou ficar aqui sem fazer nada um pouco, só um pouco
Só o tempo de me refazer dos dias, do peso de tudo
As coisas leves alimentam mais: a natureza, as lembranças
Os versos, o silêncio, uma história, uma canção, um beijo
Deitada na areia vendo o sol se pôr, eu queria as tardes
Com o canto do galo e o mamoeiro na janela, as manhãs
Nas noites, lua, estrelas, seresta, corujas, firmamento
O que importa de verdade é simples, mas como é difícil
Manter simples, ficar rente à natureza, ouvir os passarinhos
Sentir o cheiro das flores no caminho, olhar nos olhos o vizinho
Ver as cores... As cores entram pela vista e nutrem a alma cinza
Os passos automatizados, que seguem na rotina, sem atalho
Verde, azul, amarelo, rosa, um beija-flor, o som de um sabiá
Na madrugada. Naquela casa há uma gaiola com cortina
Como é triste a prisão do passarinho que não vê o céu!
Se ele canta, é um lamento de tristeza, uma saudade
Uma súplica pelo azul da liberdade, pelo verde da esperança
E os nuances e contrastes do que se perde neste corre-corre.

Lári Germano