quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

amor feijoada

está tudo estragado
depois que você passou a corda no meu pescoço
e laçou minhas pernas
eu que era um novilho ingênuo
e trotava sem medo -
algum ingrediente azedou
e fez de nós um mexidão indigesto e mal cheiroso
está tudo estragado
o cozido já não presta
tornamo-nos asquerosos pedaços de animal pululando na panela fumegante
e um pedaço ou outro da gente
se conecta por pontes de gordura
e se beija
mas está tudo estragado
os pedaços já se perderam
e não se sabe mais se esta orelha é sua
se aquele rabo é meu
nossas línguas ferventam juntas
e nossas fibras se confundem
tornamo-nos uma imensa feijoada azeda
numa panela de barro velho
prestes a espatifar no piso de vermelhão

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