terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Posso ser

Posso ser um pedaço de sonho
Uma maça antes da mordida
Posso ser uma nuvem risonha
Uma estrela sozinha
Posso ser um amor platônico
E aquilo que você não alcança
A lâmpada da esquina
A moça da fotografia
O plano que não se realiza
Posso ser um passarinho raro
Que beberica no beiral da janela
Posso ser as cores apáticas
Da sua caixa de lápis
Aquela pintura em que você penetra
Tardes e tardes seguidas
Na pinacoteca
Posso ser aquele amor de infância
Que você não confessou
Posso ser o perfume da dama
Que acompanha suas noites
Posso ser a página do livro
Que você arrancou
Uma tarde de maio
Um desejo velado
Uma jura de amor
Posso ser o raio que se enxerga no horizonte
Numa noite de tempestade
Posso ser uma música suave
Que não te abandona
Posso ser uma colcha de retalhos
Uma cantiga, uma ficção
Posso ser uma cena de filme
Um docinho de aniversário antes do parabéns
Posso ser seu recorrente brocardo
Seu insistente refrão
Posso ser aquela chuva que não molha
A sombra que não se decifra
A chama da vela que não apaga
Posso ser uma letra num papel de carta
Uma imagem deturpada de verão
Posso ser um pôr-do-sol
Um bocado de feitiço
Um querer sem razão
Posso ser algodão doce na saliva
Uma imagem de televisão
Posso ser todas as coisas findas
E as que não se materializam
A eletricidade, o som
A felicidade, a imaginação
Posso ser

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