O tempo tudo leva. Arrasta pra dentro de si as trevas que porventura vierem e as venturas que se aventuram sobre a gente, com seu viés pungente de eternidade. Tudo bem. O tempo e sua majestade levam os horrores, algumas lágrimas e outras coisas. Mas e os amores? O que ficam dos amores que o tempo leva? Depois que passam, ainda ficam deles os sabores, às vezes ainda mais açucarados e belos do que foram de verdade. Dos meus, ficam os versos, as palavras que se amontoam de própria vontade, com som e sem compostura.
Não sei se gosto desta coisa do tempo levar, de tudo passar, de despedir-se do que ainda está, porque no futuro não estará, mesmo que ainda esteja agora. Vai passar... Só o tempo. O tempo é amigo do esquecimento. Mas pode também ser mais. Pode ser apenas instrumento de recrudescimento do que fica. E a gente nunca sabe o que fica. Porque o tempo... O tempo leva tudo, quase tudo. Mas o que ele não leva, ele aumenta.
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