domingo, 26 de junho de 2011

Apego

O amor não admite intervalo.
Depois que a paixão por outro alguém atravessa a relação como um cometa,
Nada mais haverá para a frente, a não ser apego.
Se a paixão atravessa,
Marca com sua linha invisível os novos hemisférios, como um trópico.
E divide em dois, mesmo o indivíduo que não quer ver
E permanece no hemisfério do passado,
Tentando reconstruir o vidro.
Mas não existe amor quebrado.
Não existe amor sem integridade.
O que resta do amor incendiado pela chama de terceira pessoa
Não passa de cinza,
Vã tentativa de restaurar o objeto partido.
Só apego.
O mistério maior é que o evento trágico possa ser o atalho,
A ponte de acesso mais fácil para o inevitável.
Há que se entender um pouco da vida pra saber que alguns enigmas não são desvendados de imediato.
E que a paixão é uma espécie de estrela.
É o guia mais sensato desta vida,
Que alcançamos tão pouco, pudera! 
Se agarramo-nos ao oco...
Ignorar o trópico que divide os hemisférios do passado e do futuro
Não devolve ao globo o estado anterior.
O amor não admite intervalo.
Retomá-lo com falha,
Continuar apesar de acesas as fagulhas do cometa,
Não é proeza.
Só apego.

(A capacidade de enganar o outro, me assusta. Mas é a capacidade de se trair que me apavora. Este é o compromisso da inverdade, com o qual não compactuo. Não invejo o pseudo-amor que passa por cima de tudo, ignora os instintos. A quem o queira, que faça dele bom proveito.)

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