sábado, 4 de junho de 2011

Intitulo-me: poeta


Escrevo da seguinte maneira: primeiro, uma coisa a dizer na mente. Uma conclusão, um ponto qualquer. Depois, sento-me, pensamento firme no cerne do que quer sair, e teclo qualquer coisa. E então, as palavras vêm em torrente e se amontoam sozinhas, de própria vontade. E elas são dançarinas, gostam de rima, se organizam pelo som. Então, é assim que se forma a poesia ou qualquer coisa outra que eu escreva. Sinto-me mais um instrumento do que a mentora da formação de meus textos autônomos, praticamente independentes. Aí me perguntam: o que você lê? Quais os poetas que te guiam? Nenhum. Poxa!, leio pouca poesia. Como posso ler poesia, se escrevo poesia? E todos ficam embasbacados e se riem da minha petulância em dizer-me poeta. Uma poeta que não lê os grandes poetas? Eu os leio, e os considero infinitamente melhores que eu. Contudo, escrevo e sinto entre eles e mim, uma ponte. É através do que escrevo que os alcanço. Não sou devota de nenhum, porque escrevo o que sinto, à minha maneira. Leio o que escrevo e admiro minha obra, porque sei que não vem só de mim. Estou mergulhada no mesmo limbo de todos os poetas. E por isso escrevo. Não importa, exatamente, o reconhecimento alheio. O exercício e o movimento do que impulsiona as palavras brincalhonas que pululam no meu ser, como grilos atrevidos e cantores, é parte de mim . É esta a minha devoção para com os grandes mestres. E me rende, até contra a vontade. É anterior e superior à minha autocrítica e ao temor da reprovação ao redor. E é por isso que ouso intitular-me assim: poeta.

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