sexta-feira, 29 de abril de 2011

ESTADO DE POESIA


poesia é o estado das coisas etéreas
há que se ter a alma leve, leve, pra que se a alcance
há que se ter um buraco qualquer por dentro
a tornar-nos porosos e dotados de uma propriedade abstrata
há que se ter uma música no pensamento, quase sempre
e um desejo de ser amado, mesmo sem merecimento
há que se ter um amor sem dono
universal e amplo
exagerado e platônico
por algo, alguém
ou por tudo
poesia não é um estado de coisas concretas
de coisas terrenas
também não é própria dos que não sabem chorar
ou dos que não podem mergulhar com os olhos abertos
poesia é um alimento
que às vezes a gente põe pra dentro
às vezes a gente cospe

Infeliz guerreira



Ela é por inteiro macia,
Menos por dentro.
Porque, por dentro, é dura, guerreira
E eu não posso com ela.
Nenhuma de minhas táticas tem sucesso perante ela.
Ela é poderosa e firme,
Impassível e destemida.
Diz que eu desperto o pior que há nela,
Não compreende que o pior que há em mim, é que se revela
Quando não consigo domá-la, conduzi-la.
Enlouqueço-a, mas por causa da minha loucura
É que ela é tão forte e segura.
E apesar de todos os tormentos
Que eu tento, com as minhas intenções mais fundas, desviar,
É minha amada, tão amada.
Queria ser uma mãe melhor, uma mãe normal,
Mas tenho acessos de raiva
E uma sombra terrível me acompanha,
- É um fardo que carrego,
Mas, por causa disso, escrevo versos.
Infeliz menina que veio de mim!
Por mais amor que eu tenha,
As emoções são fartas demais, tudo se alastra.
Coitada dela que nasceu assim:
De mãe poeta.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

HOMEM CASADO


Sua pele me parece macia
E sua idade menor
Me encanta sua maneira de morder o lábio debaixo
Folgada e flacidamente
Seu nariz de haste fina, com abas largas
Seu andar displicente
Toco meus lábios com a ponta dos dedos
Pensando nos seus
Procuro no seu olhar indiferente e vago
A itenção escondida
Na sua calma voz de um só tom
As palavras perdidas
Mas no seu falar sem som sobressalente
Não há melancolia
Da sua voz modal, em meus ouvidos
Faz-se música e me embala
Prescindo do que é dito
Mas são a inteligência serena
As frases sensatas e calmas
Que me condenam à hipnose
Que nem o amarelo da aliança
Com estridência, reluzindo
Acalma.Não é empecilho
Seu compromisso social
Apenas drama, ingrediente primordial
Pra boa poesia. - Ou martírio?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Tetas de preta


Tinha uma cor escura
Nas extremidades e nas juntas
Um excesso tanto de risadas e assunto
Como de coração 
O jeito atrevido de quem quer ser querida
E se arremessa à frente, sem assertivas
Um não se aprofundar até bonito, alegre 
Apesar de evidente
E caiu-lhe bem ser mãe
O olhar generoso finalmente útil
A popularidade máxima perante um ser, enfim
Mamilos em riste, tetas à mostra
Postas a amamentar
Tetas de pontas pretas, repletas
Expostas em oferta
E finalmente dispostas
A angariar real afeto 
E verdadeira fã
Sem afãs outros, ou melhores
Que tê-la por perto
Alimentar-se dela
E chamá-la de mãe

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Condição humana

Perdão, ó Pai!
Por gostar tanto desta condição humana
Do que aquece, inflama
E, de desilusão, se acompanha
Mas, que culpa haverá
Se a carne, sem a paixão, é fria?
Se a história, sem ela, não tem liga?
Os sentidos aguçados, prefiro à paz
E, em lugar de pensar, tocar
Deixar-me inflar de ar quente
E subir até o cume
Inspiração pra arte?
Ou neste ardume fugaz
A identidade inicial?
Aquela da qual não há escape?
Perdão, ó Pai, pois sou fraca
Nada além de criatura
Muito instinto motriz
Pra pouca ternura