sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Olhos de através.

Olhos de através.
O que você vê?
Vê somente o que vê ou vê além? Ou vê adiante, através?
É capaz de ver os porquês, o que há por trás? De conhecer alguém? De interpretar? Os silêncios, os traços do semblante? Os suspiros, as passadas, o ar expirado de maneira diferente?
O que você vê?
Eu procuro ver adiante. Mas isso é porque eu tenho a alma de poeta e a mente de um pretenso intelectual, que nem chego a ser. Que nem chego a ser metade.
Estou triste hoje.
A maioria das vezes que escrevo, estou triste.
Os artistas são melhores sendo tristes. Não sou artista, mas pretendo ser.
Um dia, quem sabe, talvez.
Quem só vê o que vê, não conhece. Não percebe. Não atravessa.
Sempre raso...
Cativante talvez, mas raso... sempre raso...
Só queria ficar aqui dentro.
Rever tudo. Com meus olhos de através.
Já que não posso nascer de novo. Rever tudo o que me sobra: meus amores, meus sentimentos, minhas previsões, meus pressentimentos, minhas lembranças, meus raros momentos de adequação.
Minha ilusão de ser diferente.
Meus olhos de além.
Só pra pensar que valho mais que nada.
Num outro plano, talvez.
Olhos de através.
Só, mas nunca rasa.

Puramente triste.

Sou estranha.
Eu sei.
Mas, no fundo, não sou.
Só carente, ensimesmada.
Apenas isso.
Reservada.
Um pouco insegura.
Outro de arrogante.
Um pouco de triste.
Um pouco de boba.
Muito de solitária.
Mesmo quando sorrio, me sinto só.
E, sempre, incompreendida.
Queria sonhar com flores e descansar, de verdade.
Queria ser uma presença que se deseja.
Mas sou só eu e só.
E este sentimento é um dos piores que já senti.
Mas o pior de todos? A humilhação. A vergonha.
A vergonha queima mais que o ódio.
É parceira do desespero.
Prefiro a todos estes sentimentos, estar triste.
Ser triste. Puramente triste.
Ainda é melhor ser triste que envergonhar-se, sentir-se humilhada, rejeitada.
O desespero... dilacera.
A tristeza é só o opaco.
As cores fugindo da tela.
A vida se despedindo.
Vamos dormir.
Com os anjos. Com as flores.
Campos de flores desesperadas, amarelas?
Não! Flores violeta e branco, que exalam perfume ao anoitecer.
Flores doces e femininas que abrem, à noite, seus aromas.

A vã psicologia

Têm coisas que a gente precisa esquecer.
Não acredito na psicologia.
Nas idênticas soluções da psicologia.
O que é certo?
E o errado?
Qual melhor parâmetro que o amor?
Como não considerar o magnífico da vida?
O misterioso?
O supremo poder, maior do que tudo, que, único e soberano, rege todas as coisas?
Não acredito em psicólogos.
Nem em uma razão que não seja magnífica.
Não sou nada no mundo.
Absolutamente.
Mas dentro de mim há a mesma arrogância de meus primórdios. De ser especial.
Todo mundo é especial.
Mas eu, aqui em mim, penso na escritora que “sou”, na filosofia que me rege, nos meus “conceitos”.
Continuo assim.
Será que ainda há tempo de tornar-me algo?
Assisto a filmes e leio “trechos” de livros.
Não assisto a jornais ou leio notícias.
O que aconteceu com quem eu deveria ser?
Me perdi no amor.
Minha alma de poeta.
Minha fragilidade.
Tanta carência.
Perdida no amor.
Sem recuperar ninguém.
Sem frutificar.
Sufocando meus amores, que querem ser eles mesmos apenas.
Enquanto eu quero que eles sejam o que eu quero, eles só desejam ser livres.
E eu? Desejo viajar, descansar na areia da praia.
Desejo espaço pros meus sonhos. Ser querida. Ter amigos.
Mas sinto cada vez mais que só tenho a mim.
E só sonhos. Muitos deles. Infinitos.

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sábado, 26 de julho de 2008

Peixinho dourado

É um pássaro sorridente
Um peixinho, um amor...
Veio pras minhas preces atender,
Pra fazer-me feliz
Quando só havia vazio
E dor.
Oh meu peixinho dourado,
Por que não será para sempre
Meu anjo amado?
De carinho, leveza,
Doçurinhas, beleza?
Quanta falta fazem-me seus rasantes
Terá sido, você, só amante
E não verdadeiro amor?....
Peixinho, querido, do mar...
Queria, contigo mergulhar profundo
Surfar todas as ondas do mundo,
Flutuar...
Quanta falta
Fazem-me seus assuntos,
Seu toque persistente,
Seu sorriso, seu olhar...
Dourado é seu brilho, sua luz,
Seu sol, sua cor...
O céu de seus olhos em mim:
Um mar, um amor.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um nome num muro, pr'um amor adolescente, platônico...

Cada muro branco
Pintado com seu nome...

Cada casa branca
Pixada, entitulada,
Com teu nome,

Sinais, pegadas, trilhas...
Pistas apagadas
De onde você anda.

Onde você anda,
Ó Towanda?

Tua presença me agoniza,
Tua ausência é minha morte.

Ó talvez eu não suporte.

Será?

Lua



Sóbria e nua Lua,
De meus desejos...
Sóbria e imatura Lua,
Tanto obscurece
Como amanhece
Num relampejo.
Turva e obscura Lua,
A névoa úmida que te envolve
Quantos eus não absorve
Toda noite ...(?)
Pálida e ingrata, Lua...
Qual a face que não revelas
Ao outro lado do horizonte?
Pálida e ingrata, Lua
Do relampejo.
Nua e imatura, Lua,
De toda noite.
Sóbria e turva, Lua,
Tão obscura.
Onde estás?

terça-feira, 8 de julho de 2008

Bruxinha branca










Um canto de galo
quase à meia noite. Estranho...
Mesmo assim esse cantar me comove...
Mariano...
Porque em casa de minha avó
era assim...
O calor forte, as cores vivas,
os cheiros intensos,
que em fumaça se movem,
do cigarro, da comida,
da arruda, da vela.
E os sons... Os pássaros...
O papagaio...
O som da roldana que sobe,
do poço, o balde.
O som da água no tanque...
Das crianças dos vizinhos,
da carne de porco fritando,
da voz chiando baixinho,
uma Ave-Maria, uma reza...
O som da vela queimando
e dos gestos das mãos que fazem
os sinais da cruz,
que se sucedem, um após outro...
O cheiro da pele de minha avó...
O cheiro da minha velhinha.
Da minha bruxinha do bem,
de voz grave e risada alta,
de dente de ouro e cabelos brancos,
tão branquinhos... como de uma bruxa,
uma cigana...
mergulhada na fumaça de seus cigarros,
nos odores daquela casa vermelha
de cera lustrada, o chão...
e suas cores...
A horta, o galinheiro,
os personagens ao redor,
entrando e saindo,
chamando...
Dona Aparecida,
Ô Dona Ap'recida
quase que comendo o segundo "a".
Porque mariano, de Santa Mariana,
como minha filha andreense,
feita por lá...
Que saudade do portão azul,
sempre aberto.
Do loro, dos sons...
do galo cantando,
do sol a pino, das cores tão vivas,
dos cheiros imensos,
das pessoas saídas de um livro,
de um pensamento mais longe
quase um vento...
Que saudade de meu avô.
De seus assovios suspirantes,
de sua língua dobrada,
e suas piadas inocentes,
da sua doçura, seu encanto,
de sua frágil postura
de quem luta contra a doença
e por isso sabe ser doce,
mais doce que tudo.
Daquela casa de mamões,
de flores, borboletas,
chuchus na cerca,
folhas na horta,
galinhas, lavagem...
de abacates e ameixas amarelas,
de chão vermelho,
papagaio verde e
de uma bruxinha branca,
encantada!,tão linda!
Abençoada...
Minha vozinha!
Que saudade de tudo,
de sua casa viva, de você,
de minha família...
De mim, enfim. Cadê?
Aqui! A ouvir um galo na cidade,
à hora de dormir.
Estranho...

terça-feira, 8 de abril de 2008

Inconsciente

Caminho...
O horizonte lá longe
E o inconsciente sobrevoando, como um pensamento monge,
E um nevoeiro cobrindo distante
As pegadas de um passado relutante.
Sozinha... A lucidez insensata
Persegue-me insatisfeita,
Como poeira trágica,
Tão vã e lunática,
Tão ampla, vaga e imperfeita.
Caminho, sozinha...
O universo abrangente
Limitou-me, fez-me gente,
Cheia de conceitos, cheia de entes,
Omitindo na escuridão
O mistério desta vastidão.
Sozinha, caminho...
Mas sinto meu pulso e,
Apesar do silêncio,
Sinto meus contatos sem senso,
Captados por um radar
Fora de ordem, fora do ar...

Sol

Numa estrada...
Sobre um painel abandonado,
O Sol, tenente grotesco,
Aquece corpos indiferentes
De cérebros isolados.
A paisagem comovente
Já não causa mais efeito
Sobre as cabeças ardentes
E as mentes cerradas de defeitos.
O Sol quente, ardido,
Sobre os cérebros ferventes
Já não aquece os feridos
Corações eloqüentes.
O solo rachando, sedento,
Os corpos largados,
Sem o consolo sequer do relento,
Ou dos ventos apavorados.
O Sol, quente, fervendo
Sobre os corações eloqüentes,
Como um machado que não fere, não parte,
Como erosão no solo rachado,
Que abre uma fenda no solo sagrado
Dos corações eloqüentes,
De cérebros dementes
E corpos abandonados.

Alameda da Vitória

Subindo a ladeira...
Firme, sóbria, ditadora.
É manhã sem sol,
Sem nuvem.
Manhã de luz da lua,
Que esqueceu de fugir.
A noite foi tão linda...
Ela não quis partir.
É manhã, e o sol tirou descanso,
Deixando em seu lugar,
A mansidão de um luar,
Mais claro que o dia.
Pura magia:
Céu azul como os olhos de Jesus,
Pintados num quadro,
Pendurado em algum canto,
Pregado em algum lugar.
Olho pela janela,
Pura e bela,
Menos autoritária
Que a ladeira ríspida, árida...
Ântonimo de dor,
Sinônimo de firmeza,
Homônimo da realidade,
Fenômeno do amor.
Lua que esqueceu de fugir,
Já é dia, e nem o sol brilha tão ardido
E cobre os corpos dormidos
Como os raios mornos
Que penetram como arco-íris colorido
Nos meus olhos...
Fartos de perigo,
Carentes de ombro amigo
E de cicatrizes pras feridas antigas
Marcadas no coração.

Rosas desesperadas

Têm tantas coisas boas. Tantas...
Eu vivi todas elas...
Acho que as lembranças fazem-me perdida em campos de rosas amarelas, desesperadas...
Soam as alianças do passado, tilintando como pessoas, que passeiam desencontradas.
Tenho a vida, pra que viver?
Tenho o passado, pra que esquecer?
Tenho a esperança, mais que doçura, alicerce pra eu estar aqui.
Tenho mansas arquiteturas, projetos de sonho, (que às vezes vivo). Tão medonhos, intensos, concisos...
Têm tantas alegrias... Tão poucas pessoas...
Os homens da minha vida e nossas boas horas.
Tenho o amor e a paixão, hoje conhecidas.
Para cada uma, um.
Para cada um, um lugar.
Para o amor, um nome.
Devoção quase...
Que some se houver razão:
WAGNER

Labirinto

Quando penso em tudo o que quero,
Lembro de uma canção.
Quando tento criar emoção,
Recordo o instante de um livro.
Quando sonho sem sentido,
De nada vale procurar a saída,
O labirinto é infinito.
Nem com o sonho acaba.
Pega atalho, mais nada.
Nem sonhando, eu me acho.
Quanto mais me aprofundo,
Mais superfície.
Quanto mais montanhas escalo,
Mais o chão é planície.
Falsamente pacífica,
Estranhamente constante,
Infinitamente distante.
Trivial.

Vazio





Algúem,
me escute daí de onde está.
Alguém,
me responda de uma forma qualquer.
Alguém,
dentro de mim ou fora.
Alguém,
pra estar sempre sem ir embora.
Alguém,
pra tocar sem demora.
Alguém,
pra inventar e ser.
Alguém,
escuta meu chamado,
alto, daqui de baixo,
um brado de sussurro,
mudo de palavras,
surdo de gritar
no eco, no escuro...
Alguém,
que diabo há!?
que quem deveria estar não está
e quem já foi não quer voltar
sequer pra me buscar.
Eco...
Alguém
pra despertar sedução,
do tipo que houv,er (será?),
pra vida ou pro delírio.
Bedita alucinaçao!
Alguém
pro coração acompanhar,
no compasso, ritmo, tudo.
Alguém no mundo
pra esquentar a primavera de outubro
e a carência do blusão
fofo, de lã tenra
e bordados a mão...
Alguém pra servir de roupa,
de textura mais lisa
com cheiro de xerém
e finura de maizena...
Alguém
pra ajustar a silhueta
cheia de carência...
cheia de lã, coberta, paciência...
cheia de esperar por alguém.
Alguém?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Romantismo literário, covarde, arbitrário



Eu quero ir pra casa...
Me leva...
Me arrasta...
Me pega.
Sinto tanta dor
Desta que dói no peito
Tão forte, tão dentro.
Sinto tudo mudando de cor
E a coragem faltando...
Não tenho nada que dure,
Nada que valha,
Nada que eu queira,
A não ser a navalha.
Me leva pra casa,
Me carrega no colo,
Me invade
Com essa covarde coragem
Que falta pro fim dos meus dias,
Para a minha morte.

Café com leite não vale

Faz tempo que não escrevo.
É este caderno velho que me desanima.
E as mesmas idéias velhas voltando.
Não tem aquele conto que eu não escrevi
Da velhinha que corre pra pegar o ônibus,
E do rapaz baiano que não consegue calar a boca.
E da mulher magra que pegou o trem,
Reclamando que homem não devia existir.
E aquele beijo caloroso na turbulência do metrô,
E o menino assaltante
Que eu assustei com os olhos,
E a paisagem ficando na janela do ônibus passando,
E o sono acordado do ônibus que sacoleja
Nas mentes mal acordadas dos executivos.
Tem também aquilo de quem não entende poesia
E a cumplicidade do silêncio compartilhado,
Em tardes quentes,
Entre amigos,
Cansados de gentilezas.
Tem tanta coisa a ser dita sobre a vida.
Sobre a imagem refletida no espelho,
Sobre o vermelho do céu com o sol se pondo
E a senhora que grita na escadaria da Sé:
_Meu senhor, minha senhorita...
E o farol se abre...
São segredos,
Multidões confrontam-se nos cruzamentos,
Enternadas.
Tanta coisa que eu não lembro.
Como tijolos,
Cimento, areia e água.
Café com leite não vale.

Presença passageira

Seu beijo... Profundo, intenso...
Como teu sexo imenso
De prazer profundo, denso...
Quase uma dor...
Como tua presença
momentânea, fugaz,
que em mim faz
praticamente simultâneas
a dor e a alegria.
Porque passageira...
Brincadeira,
sem graça, aliás.
Euforia que vai
e com a mágoa intercala.


Inteiro, o momento

Talvez eu devesse estar contente, mas não estou.
Sinto uma energia desperdiçada... um passatempo delicioso, mas que me desconcentra...
Um sentimento que não se condensa. Uma história que não se realiza. Envolta em percalços.
Estou cansada. Sentimentos frágeis. Desistindo... Mais que desejo de sonho, vontade de realizar, de estar entregue.
Luto pra dominar sentimentos que deveriam ser bons... que deveriam dominar-me. Tomar-me inteira.
Sentimentos de vida...
Estou só.
Apesar de ter a quem prestar declarações, ninguém por mim. Eu por ninguém.
Passos solitários, desprotegidos. Coração enredado. Envergonhado de amar. Estou cansada.
Triste, exausta. Usada.
Por melhor que seja o momento, que é só o que tenho, queria pelo menos estar entregue.
Mas nem o momento é completo.
Cansei.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Linhas da mão

Olhe as linhas das mãos, como mudam...
São as linhas da vida.
A criança tem poucas linhas, poucas dores.
a esperança inteira não tem marcas,
só as suficientes.
As linhas de saída e de entrada
afundam nos planetas
curvas e montes,
palmas repletas de horizontes,
que mudam com a mente
com os traumas.
Na palma da mão tenra temos o M,
só semente dos caminhos...
Na mão gasta, áspera, tensa
labirintos,
encruzilhadas... Riscos.
Os corridos,
os temidos,
os encarados de frente.
As vitórias,
as derrotas,
os gemidos de tanta gente aventurada,
ou desventurada,
que constitui a gente mesma,
naquilo que temos de glória e de medo,
naquilo que queremos ser
e naquilo que a esmo somos.
Minhas linhas...
A da saúde parte-se
em duas instáveis,
cheia de afluentes,
de nevralgias similares
aos delírios.
À do destino, somou-se uma paralela
duas escolhas? marés?
mares?
Mistérios incontávies?
Indecisão?
À da vida, outra paralela menor...
Quanto tempo vai durar?
As duas que sou?Os traumas de amor?
O mar trancado entre paredes...
Linhas das mãos,
pilares,
cheias de cruzes,
fugazes pesadelos...
Ares contaminados.
Dados no ar.
Em garfo satânico,
deságua o destino,
cruzando a vida de que estou cansada
e a saúde debilitada.
De qualquer jeito, sobrevivo.
Forçada quase.
Supersônica.

O que são as dores nas pessoas?

Bola de Neve

Uma lágrima,
escura,
amarga,
dura como pedra,
rola a face
como uma bola de neve,
dura,escura, amarga, farta,
que carrega tudo consigo,
tudo persegue.
Respinga
como uma bomba nuclear,
sem destino pelo ar,
dura, escura, amarga, farta, estridente.
Lava todo o semblante
como um maremoto vingativo,
abrangente.

Finalmente

Gota de chuva
presente nesta mancha de olhar
cai como luva
em festa de rigor trajar
Gota de orvalho
percorre com o brilho
de encerado assoalho,
lavado ladrilho
Gota serena
com a noite cai
como cobra alastra-se, envenena-me
como um ímã, meus olhos atrai
Água pura e transparente
purifica-me e traz pra sempre
o prazer de ser amada
e feliz finalmente.

segunda-feira, 17 de março de 2008

É tudo transparente

Desliza caneta, desliza...
Desenha, inventa, formula
o desenho da idéia que tenho
sem saber ao certo qual é.

Quero ficar em casa,
Quero estar deitada,
Quero sumir.

Mas quem irá segurá-la,
para que se desenhe
o pensamento perdido?

Mas, de que vale o pensamento assim,
se geralmente não vale de nada
e desenhá-lo é como brincadeira?
Brincadeira de charada,
sem motivo nenhum,
sem um motivo que seja.

Almeja desvendar-me, caneta?
Pois que tente!
Preste-me o favor...

Aqui não há nada!
Mas nem barreira há,
Nem amor.

É tudo mesmo sem graça...
Nem de graça, se eu fosse você,
Desperdiçava tempo neste interior.

É tudo transparente...

Parece tão pouco,
que parece mentira,
Mas não mente a minha conduta,
A minha face e as poucas rugas
que surgem sem que eu perceba.

É só isso aí!
Luta pra mitificar o que é puro,
autêntico...
Originalmente sem sal,
nem açúcar,
nem talento.

Só eu e só.

Não há como reviver o tempo...




Tempo...
É só o tempo passando
Nos ponteiros mudos do relógio novo
Nos passos únidos do varredor de rua
No vento soprando na janela das casas
Nos olhos piscando, abrindo as asas...
Tempo
Sem verdade maior que a sua
Sempre indo... sem volta... sem nada
Sempre atento, quietando
Sendo noite ou alvorada
Tarde ou meio dia
Com sol ou não
Só o que é... indo... infinito...
Tempo
O que há de mais?
Para que haverá de haver
outro algo, se és certeza
única e imediata
futura, sem ser premeditada?
Passa tempo...
Aqui dentro, um minuto...
Lá fora, quantas horas?
Sinto tanto, sinto muito
mas não te sinto passando
Crueldade essa tua,
Tempo...
Só percebemos verdadeiro
quando já és lembrança
Mesmo querendo revivê-lo,
não é como antes o presente distante
pelo passar do seu passeio,
tempo...

Uma coisa assim...

Uma coisa assim...
Paz
Tudo limpo, claro
Paz
O ar se enche de além
Paz
E o perfume arde no ar
liberado aos poucos
Paz

É bom sentir que o mundo
(todo o mundo, o mundo todo que há)
pode ser tão pequeno
quando o ar ameno,
a harmonia do ser,
instauram-se nisso que é viver,
tanto a caber numa só palavra
Paz

Tudo é tão sereno
tão completo, tão imenso
e tão pequeno, porque dentro,
sendo o que há de melhor
Paz

Amor e consistência
Laços de mãos
Corações cruzados
Em sintonia
Ah! sinfonia de silêncio...
Aparência desimportante
quando é ela quem está
Paz

Sonhar

A vida é para mim
Como um beijo demorado
Tem gosto de carmim
se fechar os olhos bem fechados
E perfume de orvalho
se a pálpebra aperta a lágrima

E o passarinho que voa
É como notícia boa
bate as asas de mansinho
Rasante de vez em quando
Como o escorrer de um carinho

E o ar pesado
É como o peso do fardo
nas costas do lavrador
Se respirar embalado
não sente ou esquece a dor

Para mim, tudo é assim
Demorado...

Cansei de viver
De tentar, de querer
Não quero sonhar
Nem amar
Sequer dar o que não sei
se posso dar

Nem fazer o melhor que posso
Se o que consigo no ócio
é tão valioso quanto

Não quero dormir nem acordar
Mas prefiro estar dormindo
O sono tem o sonho que me liberta
e que não machuca

Assim estou quieta
Estando inteiramente ativa
Não preciso estar certa
Nada me dá garantia

Não há noite nem dia
Nem compromissos a perder
É sonho: tudo se inverte
Em tempo, espaço, lugar
Às vezes diverte
mas não é o principal de sonhar

O principal é estar
dentro do sonho
noutro plano
livre pra acordar
Inteira, mesmo que tensa
Intensa, mesmo que calma
Intacta.

domingo, 16 de março de 2008

Contras

Sou estúpida
Sou brava
Sei ignorar
Sou egoísta
Tenho dó de mim
Sou medrosa
Sou covarde
Sou arrogante
Sou sensível
Sou fraca
Desisto
Me vingo
Sei magoar
Sou facilmente magoada
Sou magoada
Tenho medo de sonhar
Vivo sonhando
Sou chorona
Sou extremista
Sou exagerada
Sou individualista
Sou independente
Sou extremamente dependente
Sou faminta
Sou ansiosa
Sou idealista (utópica)
Sou pé no chão (muito realista)
Sou modesta (me subestimo)
Sou simples (demais)
Sou complexa
Sou poeta
Sou frágil
Sou fraca, já disse
Sou vaidosa
Sou despojada (da matéria)
Sou intensa
Sou distante
Sou tímida
Sou insegura
Sou inconformada
Sou rígida
Volto atrás, quase sempre
Sou perdida
Estrago tudo
Minto
Tenho baixa auto-estima
Sou frustrada
Sou carente
Sou terrível
Sou benevolente para comigo
Sou gulosa
Sou imensa
Sou fria
Sou escandalosa
Sou profunda
Sou sentimentalista
Viajo
Sou pessimista
Fujo
Tenho medo,
de tudo

Noite de domingo

Não consigo falar de muitos personagens ao mesmo tempo. Também não consigo fazer uma ficção verdadeira. Soam, minhas histórias, sempre infantis, desprezíveis.
Mas eu tenho histórias pra contar. Que são importantes, imponentes, centradas, fundamentadas, coerentes.
São histórias sobre o mundo em que vivo, mas, principalmente, sobre teorias, o modo que se vive a vida, no mundo.
No meu mundo, em particular.
Que é, nada mais, que a minha vida. Em particular. Ou em público.
Preciso, antes de tudo, escrever para recuperar o sentido. O sentido de estar viva.
Escrevi tantas histórias. Histórias que não eram minhas.
Mas as minhas histórias são melhores. E é essencial, para mim, contá-las.
Como fotografias, cheias de paisagens; como propagandas, encantantes; como degraus, em etapas; como moedas, em ambas as faces; como janelas de avião, com plena vista.
Elas fervem, sem tomar formas. Apenas em borbulhas. Posso senti-las pelo farfalhar do peito, pelo ritmo acelerado do coração.
Minhas histórias parecem poesia.
Mas não são.
Isso dói.
Tenho esta sensação de dor, uma agonia.
Não consigo descrever isto.
Vontade de vomitar.
Medo de que minha mãe veja-me escrevendo isto.
Minha mãe sempre xereta tudo.
Por isso não consigo descrever completamente este mal estar.
Como noite de domingo.
Mas as noites de domingo só me agoniam se há compromisso no outro dia.
Não tenho mais compromissos às segundas-feiras.
Mas, às vezes tenho.
Às vezes tenho uma vontade grande de... sei lá!
Não ter compromisso nunca mais.
Mas, de repente, preciso deles.
Preciso imensamente de compromisso. De uma rotina monótona e contínua.
Gosto de luz. Luz do sol.
Aquela luz clara, dourada e branca, que entra pela retina e desperta interesses. Magias...
Funciona como combustível, como estímulo.
Energia.
Quando eu era criança, tinha problemas com a noite.Principalmente quando ela pousava sem que eu houvesse despedido do dia.
A luz afeta meu humor.
E o frio, afeta-me grandemente. Profundamente.
Mais até que o escuro.
Fui uma criança doce. Que gostava de escrever com lápis de ponta grossa, pras palavras ficarem macias e aconchegantes. Redondinhas, folgadas.
Não gosto de meninos artificiais.
Não gosto de nada artificial.
É um dos meus males.
Quero tudo autêntico. profundo.
E belo.

Conflito

Meus pensamentos são mais perfeitos que minhas palavras. São acabados.
Minhas palavras se perdem entre tantas coisas. São brechas.
Conheço muitas pessoas, mas conheço tão poucas.
Percebo maravilhas que devem ser contadas, partilhadas, divididas. Mas as perco!
Gosto das vozes e das risadas. E das coisas que as pessoas não aprendem.
Gosto de perceber-me. De identificar meus avanços e recuos que se intercalam com tanta insistência.
De curtir minha nostalgia de pessoas e coisas. Da minha vida...
Gosto de pensar nas opções que tenho e na magia de realizar cada uma.
De contemplar a segurança da rotina e das tarefas diárias, da simplicidade, do dia-a-dia.
Mas gosto de imaginar o inesperado. Deliciam-me as expectativas que surgem com os riscos.
Porque os riscos são a vida.
Mas colecionar momentos cotidianos também são.
Gosto de ser uma boa anfitriã.
Penso que um lar aconchegante, com perfumes culinários e mesa farta é um lugar perfeito para realizar momentos e cativar pessoas.
Penso nas frases ditas e nas coisas e pessoas doces da minha vida.
Tenho ímpetos de cometer loucuras. Boas loucuras que nos fariam bem a todos. Mas que não seriam compreendidas.
Mas de que adianta cometer boas loucuras para si e para o mundo, se o mundo das poucas pessoas que o amam se magoa com seus "assombros"?
Este é o meu conflito.
Fico feliz porque não é um conflito de mim para comigo, mas de mim para meus queridos.
Como devo proceder no encalço das coisas, das doçuras do dia-a-dia, das descobertas cotidianas que me enriquecem, sem magoar quem povoa minhas lembranças?
O amor responsabiliza.

Primeiras divagações sobre a hipocrisia

Tudo o que eu quero é um toque mais profundo, um carinho nos cabelos, a mão dada que é entrega, o olhar de compaixão, a palavra solidária e a união. Quero um amor como o que sinto e tratamento de inteireza. Companhia de alguém que enxergue além de si e me veja: carente, sem sentir raiva; rebelde, sem loucura; de todo o coração, que não me ache hipócrita.
Que eu não seja hipócrita. Eu tenho um escrúpulo do tamanho do mundo que eu quero. Um mundo de respeitar quem se conhece e sentimento verdadeiro. De conhecer as limitações do outro, sem incomodar-se, nem mesmo consigo, porque faz o que deve.

15/03/2008

Quase o dobro da minha idade
Por pouco...
À medida em que avança você,
faz-se em mim a maturidade ...
Paizinho querido lembre-se sempre
de não me deixar nunca.
Quero-te pra sempre minha sombra.
Por mais que pese.
Às vezes,
Ou sempre, pese...
Tua mão, teu calor.
Teu amor à minha espera.
Ou à minha captura...
Doçura de ser,
É você.

Ilha das Flores

Rumores dos quatro cantos
deste universo, dentro do mundo
invadem meus pensamentos
de afãs tão imundos e sem amores
que, penando em tremores,
chego a suar sentimentos
A tristeza lá de fora
de crianças se afogando nas drogas
de criaturinhas humanas
se matando e acabando
com a esperança do novo mundo,
é a maior derrota
para este habitante
de terras insanas
que sou eu também
Infeliz de mim!
Pois, sim, não suporto além
do palpitante brado
de minhas particularidades
Cerco as entradas
que levem à minha intimidade
notícias desses meninos
tão pequeninos
e com tão grandes fardos a carregar
Muitos deles são meus vizinhos
e às vezes ficam a olhar-me
com os olhos cheios de tudo
com a barriga cheia de nada
e com as bocas a arrotar
pedidos de súplica
Vão s'embora ó meninos!
Deixai em paz meus mesquinhos
valores desta existência!
Deixem-me executar meus labores
em favor deste mundo de horrores
que construo ao me esquivar!

Assim, construo os muros
que rodeiam a mim
Visto-me com a túnica da indiferença
alheio-me de todas as crenças
e murmuro o quão é lindo
tudo o que, dentro destas quatro paredes,
finjo que existe
Mas aqui falta um pedaço,
ou sobra, nem sei...
Daqui eu sinto o mormaço
dos sentimentos que sufoquei do lado de fora
"_Vão!" Grito eu aos pequenos
Meus berros, porém, parecem amenos
diante do olor que já assola
meus tão reservados aposentos
Ò mundo cão!
Fizestes de vossos filhos urubus
a pestanejar sobre os lixos
Fizestes de vossas crianças
zumbis de coração,
cujos ódio e rancor, são explícitos...

Mas as frias paredes que me rodeiam
são ainda mais tristes!
Troco minhas vestes por trapos,
as minhas maldições por preces
Não quero mais desmentir o que sou,
congelar o que sinto...
Que jorrem as lágrimas que,
por tanto tempo, jurei:
"_Não existem!"

À minha Mãe

Mulher... enviou-me,
De formosura
preencheu-me,
Mostrou-me o caminho
e ajudou-me a ver flores
onde haviam espinhos.

Na hora sofrida,
iluminou-me a saída.
Está sempre ali .

Mamãe querida,
Perdão!
Por minhas faltas, meus erros,
Se os fiz, não foi por mal,
nem poderia.

O que há?
Sempre uma vala
entre mim e ti?

A alma que nos iguala,
reconhecendo-se enfim,
inconformada?

Talvez... mas ainda assim,
a risada - trégua bem-vinda,
a infância tão linda,
sempre nostálgica.
Em mim, sempre carente
de ti.

Permanentemente




Sofrer faz parte da vida,
Mas ela nem é tão sofrida,
gente nasce, cresce e morre,
mas só consegue ser feliz e profunda,
quando descobre
que a vida é também alegria ,
felicidade...
É descobrir a verdade
de cada um.

Sem roupagem,
falsidade,
ou qualquer tipo de indignação.
É relacionar-se com puro amor,
soltando a alma, o coração.

É indispor-se às vezes,
ou dispor-se mesmo ao terror,
descobrir a emoção ,
em tudo que se transforma...

Nada faz sofrer eternamente.
Só o amor pode permanecer
e viver pra todo o sempre.

Nada dos dois lados

Que frio!
Frio por fora,
corpo todo arrepio.
Que frio!
Frio por dentro,
corpo sedento, todo sombrio.
A temperatura da pele,
tocando a temperatura
do chão.
Chão gelado:
corpo gelado.
Música sem ternura,
tão fria... gelada.
Caminhada sem guia,
tão fria... gelada.
Coração disparado.
Tão claculista,
gelado.
Rosto coberto,
olhos cerrados,
lábios rachados,
mente vazia,
tão fria, gelada...
Mente gelada,
cheia de nada.
Ambiente carregado,
tão frio,
gelado.
Versos arrepiados,
como a pele do corpo,
como a pele do chão.
Versos sombrios,
como a música do silêncio,
como a caminhada sem senso.
Versos gelados,
como o coração disparado,
os olhos cerrados,
os lábios rachados.
Versos simulados,
pela mente cheia de nada
dos dois lados.

Chuva




A chuva cai delicada,
mansa, mansa...
um pouco d'água,
pra meus olhos cheios de lágrimas.
A correnteza leva,
nessas águas já não tão mansas,
as trevas que cobrem a minha esperança.
E já não sei se é depois ou antes,
da tempestade que vem a bonanza.
Que temporal mais comprido!
pingando, soando nos meus ouvidos.
Meu paladar abafado
e os olhos tão amargos,
como a angústia boca adentro,
que tento e não consigo,
desvendar em silêncio.
Chuva delicada e mansa,
é antes ou depois da tempestade
quem vem a bonanza?

Geada

Céu de estrelas libertas
aéreas, brilhantes, desertas
cada uma com seu brilho, sua luz
Todas com o mesmo efeito...
A mesma magia
de iluminar o azul marinho
do céu despoluído
Céu despoluído
pelo frio, pelo vento, pelo tempo
pela linda, porém, sombria geada
E a noite passa a ser então
geladeira pra solidão
Tristeza pra falta de leito
Proeza pros que fazem direito
e reluzem, como o amor reluz
entre as estrelas...
Porque nem mesmo três pares de meia
seriam capazes de desfazer o ruído
que os nervos enrijecidos
provocam nos dedos dos pés
Nem fé tamanha pode guardar
a senha pro calor dos corpos quentes
da lenha que aquece as mentes
unidas de amor
Porque é noite, é geada
e mesmo as estrelas brilhantes
já foram apagadas
pelo ar gelado que sobe
Cobre o céu e sacode
de frio os mal-amados
os pequenos, os velhos
todos os coitados
sem amor, nem cobertor
Mas não os casais unidos
dois corpos num só erguidos
sobre o sol de seus verões
Pois essa fé que não é tamanha
pra anular o frio de quem dorme sozinho
é pequena pra preencher
dois corações pulsando num só batuque
compondo um novo repique
resumindo o silêncio da noite
e o uivo do vento gelado
a um tique-taque:
senha secreta da fé
que assanha dois apaixonados.

Olhinhos tristes

Seus olhos miudinhos
tão coitados
cheios de brilho
de dó...
Ó pobre homem
tão largo, tão forte
Essa cor castanha
reluz...
Por trás desse brilho
molhado e longo
um traço de mágoa apenas
Um charme, um encanto...
Por trás desse ombro vasto
desse riso, nunca casto
uma semelhança afinal
entre mim e ti
Meu homem querido
Sorri...
Mesmo com água
nos olhos puxados
de mouro, espanhol
Sorri
triste, retalho...
Caracol

sábado, 15 de março de 2008

Minha... e vaga...

A vida pra mim é um aprender e desaprender. Tenho mil conclusões em um segundo que se dissipam e se transformam no minuto oposto.
Busco nas pessoas o que elas tem de melhor, e não me importo com suas fraquezas
Sinto-me forte e poderosa porque penso por mim. Mas sou tão fraca de verdade...
Sou mesmo tão fraca...
Mas é uma fraqueza do amor que me torna influenciável demais.
Ainda não sei quem sou.
Uma veia corre de mim para o mar e a praia e o sol.
Outra, enraizou-se na proteção da família e nesta casa, me prende aos estudos e a uma vontade de ser motivo de orgulho.
São meus pais quem me divide. Se não fosse por eles, eu não estaria mais aqui. Não teria faculdade, nem livros.
Talvez eu queira mesmo é me perder. Andando sem rumo, como meus pensamentos, sem ter que voltar para o lar.
Minha vontade é de xingar quem me magoa e de conversar com quem me faz falta. De me abrir com quem mais amo, sem medo de estar errada.
Não quero parecer fraca. Não quero me abrir inteira, dando a cara a tapa.
Então me escondo atrás de uma risada. E de palavras misturadas.
E ninguém precisa saber quem eu sou.
Erro, porque é de bem que se erre na vida, que é evolução, e não porque sou errada.
Queria saber escrever ficção. Estou tão dentro de mim - grande e flácida - que não observo o que não está no meu mundo pequeno. E me afogo no ego fraturado. E me tranco dentro deste grande nada, incapaz de imaginar aventuras e contemplar vivências outras que não esta: Minha e Vaga.

O que importa é comunicar

É tão bonitinho
vê-la a inventar
e a utilizar
a língua
pra se comunicar
Com as letras,
com os números...
anotações, recados
rascunhos...
Tudo desenhado
em papéis diversos
brocardos, carafunchos
Cumprindo a missão
Como deve ser
COMUNICAR, comunicar
C-O-M-U-N-I-C-A-R

Chocolate quente com leite condensado

Chocolate quente
com leite condensado
e chocolate meio amargo
daquele do Padre
Arde segurar a xícara
Quente nesta noite fria
É inverno
Maravilha!
Gritam as células lipídicas...
O cérebro funciona mais
O corpo pára, relaxa, iberna
Os ursos grandes bradam:
que chegue a primavera
E com ela as saladas
as faces coradas
a pele mais bela
As formas redondas
precisam de alerta
O verão chegou
Desespero
E o coitado é o chocolate quente
E o culpado é o inverno

À Mariana

Mariana
Li sua poesia
e pensei assim
que a gente é sozinho
que ironia, não é?
Porque a gente tem que crescer
mesmo depois de grande!
É uma tarefa sem fim
a gente tem que ser gigante
e ocupar todo o espaço
com coisas boas de ver
de sentir,
de fazer, de comer,
de viver...
E acompanhar os pensamentos
para que eles não nos dominem
E vislumbrar nos sentimentos
esperanças e sentidos
para que eles não nos desanimem
Ocupar cada minuto, enfim,
pra fazer a pena valer
Valer a pena, quer dizer
A vida que a gente tem
Que não é fácil
mas é bonita
Quando a gente,
como no filme,
faz o que disse a mocinha
Lembra?
A gente não é o que sente
mas o que faz
Portanto faça
Sempre, mais...
E veja seus pensamentos
e sentimentos
como crescimento,
conhecimento,
com toda a paz
Com muita paz.





EXPLODINDO...

Segurar os sentimentos,
Sentir-se sempre fria,
Nunca duvidosa.
Indubitável certeza
permeando qualquer ato.
Monotonia, Rotina,
Opacidade,
Neutralidade que
violenta o ser humano.
Quero explodir
de paixão!
Sentimentos gritando,
Raiva ardendo nos olhos,
Sexo fervendo em chamas,
Coração saltando melódico.
Melodia soando
nos ouvidos
de um mundo menos tolo.

O verdadeiro Ter é ser livre

As pessoas pensam tão estranho
Acham que têm as outras
Que elas as têm
Que Deus as têm
Que têm a casa, o carro, a garagem

Miragem
Nisto não acreditam

Liberdade
Nem conhecem

Liberdade implica em coragem
e admissibilidade das nuances
do mundo, do dia, da noite,
das flores...

Mas acham que têm

Riqueza, alegria, momentos,
detalhes dentre tantos
que as cercam sem serem notados

Viagem
É navegar na imaginação de pura névoa
densa ou rala, de rara beleza

É o sonho
Nele nada se tem
Apenas liberdade.

Manchete Velha

8 moças mortas
Manchete de jornal sensacional
(Não esqueça o lista)
Não a lista de mulheres
O sufixo do sensacional
Pasquale também está no jornal
Aqui, é do ABC,
Aí, d'onde é?
Esta expressão não está certa
Na certa que não está
Pois então, voltando ao assunto
O culpado é o motoboy
Engraçada esta palavra
Virou moda
Antes, parecia que ninguém pronunciava
Ou era boy, ou era entregador
da pizza de sábado
que erra sempre o lado da rua
porque a numeração está errada
Falando em lado, o que é lauda?
É uma página
um dos lados da folha
Oras, bolas, bolhas,
As folhas do jornal
marcam os dedos
Na TV, o assassino diz que é inocente
Tem medo
Mas naquela lauda
(que chique heim ilustre?)
estava estampado que dissera:
Faturei mais de mil mulheres!
Bah!
Todos os homens dizem isso.
Que comeram tantas
quantas colheres à boca levaram
Loucura
Ou será sanidade?
Triagem de moças de bruços
Vorazes instintos ocultos
A quantos não invade?
Mente humana deturpada
Louca de barulhos ao longe
Internet: atual brevidade
revelou todas as suas faces
mesmo as tão mordazes
Cristo! Tende piedade!
De nós todos
Tão estranhamente normais
Tão cruelmente livres
Tão hipócritas e tristes
Motoboy. Motoboy
Qual o seu nome?
Elas eram meninas
E a sua, como era mesmo o nome?
Não puderam ter filhos
Felizes, livraram-se de dar-lhe herdeiros
marcados com o estigma da rejeição
Intuição... repórteres o chamavam:
Maníaco do Parque,
Maníaco do Parque
nem o tinham visto
Que a mais ninguém marque
com a amargura de seus horrores
com a sombra do mal em manias.

Queria que já fosse sábado

Indo dormir, se preparando pra ir, a porta mágica vai se abrindo... os sonhos voltando de onde pararam, dá até pra lembrar... Como se a alma estivesse se preparando para entrar num novo mundo... O mundo dos sonhos... e já fosse recordando de como é por lá...
Amanhã tenho violão cedo. Não queria ir. É legal, mas estou exausta...
Queria um amor mas tô me reencontrando. Vendo beleza onde antes não via.
Incrível, mas é assim...
Queria ler tudo, ser inteligente, dominar o mundo...!
Queria dinheiro suficiente pra viver como gosto.
Queria amigos como os da minissérie que acabou de acabar, na Globo.
Queria ser tão especial quanto penso. Mas sou só uma pessoa como outra qualquer, que se acha especial porque sente as coisas todas intensamente, doentiamente, talvez.
Estou sozinha, estou me reencontrando.
Tenho saudade da minha vida com alguém, mas não do que passou, das pessoas que passaram. Justo eu que não tenho afinidade com quase ninguém.
Queria um lap-top. Faltar no violão amanhã.
Queria que já fosse sábado.
Queria meu novo amor comigo... mas também ele... o que nos falta? Que intensidade não existe entre nós?
Será que meu fim é só?
Não tenho mais medo da solidão.
Pelo menos, por agora.
Não temo a tristeza. Ela me é quase um consolo. Tolero essa minha companheira até que bem.
Já o desespero... ah! Que bom que não há hoje em mim essa dor... Que bom!

Tijolos




Sou abstrata. O mundo prático não me interessa. As coisas que realmente aconteceram, a vida ou os fatos da vida de outra pessoa, os detalhes concretos de cada hora, de cada dia. Os tijolos... não me interessam.
O que me interessa são sentimentos, entrelinhas, o que há por trás. Motivos, razões, fundamentos. Nuances... Me interessa a filosofia, o etéreo, o que não se vê, nem se conta, ou se mede...
Insuportável.
Gosto do horizonte. Indefinido...
Gosto do entardecer, do amanhecer, do obscuro, do secreto, do mistério, do enigma.
Não acredito em verdades inteiras. Os tijolos não me interessam...
Gosto do ser humano. Das leis da natureza, do confuso... Sou mais uma detetive, que desvenda. Ou uma arqueóloga, com seus "achados".
Sou de ar. E de sonho. E de pensamento. Meditação. Argumento. Reflexão. Dúvida. Loucura.
Os tijolos?
Não me interessam.

Ser andante, mas só se for pra dormir sob as luzes da Paulista






Queria passar a noite acordada. Ter tempo pra mim. Tempo pro que eu quero fazer.
O sono me chama.
Os sonhos me escapam.
Que difícil a vida! Uns dias mais difíceis que os outros. Ou mais nítidos?
A nitidez acaba comigo! Porque no claro vejo que não sou ninguém.
Ninguém, nada de especial.
Vejo que apesar dos esforços que tenho feito, ou julgo ter feito, não há nada para deixar de memória, nada de nobre, nada de grande.
Só o ordinário. Ás vezes nem isso.
No amor, no trabalho, na família, sempre a dificuldade. Sempre um temperamento variável e... difícil... E uma adaptação vagarosa e... difícil. A tudo. A todos. Às novidades. Ou à rotina. Ao mundo enfim. A mim.
Vontade de escrever tanto pra ficar pra sempre um pedaço do que eu pensava ser o melhor. Mas, escrevo e vejo apenas o de sempre, o ordinário. E desanimo.
Às vezes quero descer. Parem o mundo. Às vezes me canso. Como hoje. Cansada da vida. De tanta dificuldade aqui dentro e tão pouca realização.
Me canso e queria só ser uma andante. Sonhar sob as luzes da Paulista. Desistir do tão pouco que sou. Me envergonho. E do muito que penso ser. Do muito que sinto. De tão grandes coisas que me fazem tão capaz de ser triste.
A consciência é o que me aflige. O que me diferencia.
De resto, sou ordinária, quase ninguém. Apenas uma menina, já velha, girando em torno e contemplando o que sente, o que só ela vê. Estou cansada hoje.
Preciso dormir, porque... amanhã... amanhã é o que me espera, - não o que me torna ou me move - amanhã é tudo o que se tem depois de um dia cansado e um vago sentimento de adeus.

Bendita indignação...!





Por que não há mais de indignação neste país?
Uma indignação gratuita?
sem causa pessoal?
Sem passionalidade?
Quando uma energia emana com força, tudo é atingido.
Por que a força do pensamento, além de influenciar os ânimos e unir as idéias, não é usada para modificar a realidade?
A minha realidade hoje é frustração.
Mas uma frustração convalescente. Que a cada dia que passa, mais da morte se aproxima.
E há uma sementinha em mim, que antes não havia...
Sementinha de esperança.
De que meus dias, apesar do mundo, serão melhores.
E de que a lei da vida é de progresso.
Por mais que as coisas nos revoltem e nos indignem, o mundo evolui.
E eu vou evoluindo também.
Antes... espero!
Mas, agora, sozinha.
Eu e meus sonhos.
Eu e meu amor, hoje sem dono.
Eu e minhas lágrimas, que não querem cair.
Com a esperança teimando em sobreviver à indignação.
Bendita indignação...!
Quero me indignar mais!
Pra reivindicar, modificar. Não só ao mundo, mas a mim...
Renascer!
Porque só do descontentamento vem a mudança.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Poder

Está acontecendo a separação, o desligamento. E com ele o recomeço que eu sempre adio, o desconhecido, que eu afasto, o seguimento das águas, que eu não domino.
Minha ânsia é o poder. O poder de conduzir os fatos, determinar os rumos. Escolher pela minha vontade, as pessoas, os caminhos...
Novamente.
Sonho com a ficção, mas apenas documento meus sentimentos mais terríveis, minhas frustrações, minhas eternas tentativas.
Há em mim uma perseverança que nunca morre. Um apego ao amor que é mais forte que tudo. Mas que não é o verdadeiro amor. É só apego.
É pretensão de domínio.
De domínio da minha vida, de domar minhas insatisfações, de driblar meus desencontros, meus fracassos.
É uma recusa à admissão do fracasso, como se isso pudesse fazer-me sentir vitoriosa.
Mas não faz.
E a vida vem, na minha inércia, desrespeitando minha gana de poder, de domínio sobre os meus passos, derrubando tudo.
Através dos outros, a vida gira comigo.
Porque, dependendo de mim, ela fica estagnada. Ou fingida. Disfarçando o movimento, porque eu o nego, o oprimo, o repudio.
O domínio de meus domínios, de minhas companhias, de meus caminhos.
O domínio que me assegura, mas que é só cenário.
Porque é falso. É de papel. E uma hora ou outra racha, dissolve, passa.

Nada pra mim

Existe o que fica dentro do outro?
O que há dentro de nós existe,
mas porque existe em nós. E só para nós existe.
O que há no outro, e está guardado, é uma ficção.
Ou nem isso.
Se existe, existe só para ele.
Sentimento que não se demonstra não existe. A não ser em si.
Para mim, que estou aqui, é o mesmo que o próprio nada.
Um zero. Um vazio.



Eu sou uma mentira

Eu quero a alegria, o riso alto, a vontade, a sinceridade, a felicidade. Quero a esperança, a luta, a realização. Quero a poesia, a doçura, o sentimento... Quero tudo, e não só um pouco.
Tudo...
As reflexões, até os arrependimentos, se existirem.
Quero o presente o passado e o futuro. Ah... o futuro!...
Quero o sol iluminando as cores, tornando as coisas vivas.
Quero o cheiro de terra, o cheiro de verde.
Quero o barulho dos ventos, o vai-e-vêm dos mares e suas espumas...
Quero o transe do sono chegando... Quero os sonhos mais malucos, mais misturados e até os "preto e branco".
Quero a paz, a amizade, as conversas mais ternas e as mais densas. As mais corriqueiras e as decisivas.
Todos os amores. E também as ilusões. As fantasias... Tudo!
Não dispenso nada. Absolutamente!
Quero as grandes maravilhas e os detalhes. Os mais simples.
Os beija-flores e os pardais. As aves mais lindas e as mais apagadas. O canto de todas, e até o silêncio das que não cantam.
Quero os aniversários de minha filha. Ano após ano... meu tesouro!
Quero os meus dias cheios. Às vezes de ócio.
Mas sempre ensolarados, como hoje.


A separação





Separação
A cabeça pensando em quê fazer,
em que rumo tomar,
em como impedir o sofrimento,
a dor que a separação impõe aos separados.
Como dor de parto,
dor do desligamento.
Ser humano, estranho...Essa simbiose, essa mistura...
Essa confusão que nos torna únicos
e com a separação se desfaz
tornando tudo como era antes.
Mas não sem machucar primeiro,
sem enlouquecer o peito
acostumado a dividir...

A tristeza



A tristeza é um pano escuro que cai em cima de tudo.
Neste palco, que é a vida, uma cortina preta desce, encerrando o espetáculo. Essa cortina é a tristeza, que torna todas as coisas iguais. Das mais bonitas às triviais. Todas as coisas com o mesmo valor. É a tristeza com seu bolor, tornando tudo mofado, tomando o brilho das cores, os sons naturais, ou artificiais. Tudo fica insosso.
Tenho medo da tristeza.
E o medo é outra coisa. É o freio da vida. E o que dói de verdade, é que ele não protege a gente de nada. Só impede.
Se a vida tem um rumo certo, ora, pra que serve o medo? Não sei, só sei que é o medo que me mantém onde estou. E o medo de ter medo também.
E a lembrança da tristeza que já senti. A pena de mim.
A pena é outra coisa. E a dó, quando é de si, ora, é o caminho por onde a tristeza pisa pra alcançar a gente.
E a tristeza encerra todas as coisas. Até o medo. De todos os sentimentos, só fica ela. Senhora de todas as coisas.
Até o medo se vai. E retorna, só e apenas, depois que a tristeza se vai.
O medo da tristeza.
É o que sinto agora.
Prefiro o tédio. Este vazio. Porque no tédio, que é outra coisa, sei distinguir o vazio.
Na tristeza só vejo o pano escuro em cima de tudo que um dia eu gostei, ou não gostei. Em cima de tudo o que eu nem sei mais.

Um tempo

Eu quero é um tempo
Um tempo, mas não pra mim,
um tempo sim, pra amar
Um tempo pra estar junto
Pra namorar
Pra dizer que ama,
fazer chamego,
um tempo pra dividir
Pra aprender,
pra compartilhar,
pra sorrir a dois e
se divertir.
Quero um tempo pro amor
se manifestar
um espaço para o amor
surgir, e mais ainda, com tempo
desabrochar, florir...
Um tempo pro amor me encontrar
Pro amor nos convencer
que ele, o amor, deve vencer
as intempéries, as desavenças,
a falta de empenho em
cultivar o amor
em preservar o amor.
O amor precisa de tempo
pra ser amor e
pra contagiar ao redor.
O amor...
Hoje o que me falta
não é tempo pra ser eu,
pra fazer o que eu quero fazer.
O que me falta é o sentimento,
a emoção,
o tempo,
que é do amor preencher
aqui dentro
e fora, em tudo o que há.
Meu lamento...
É o vazio no meu peito,
em lugar do amor,
tempo...
tempo pra tudo
menos pra amar.

Quero ser cheia

Eu quero voar... Voar nas minhas palavras, nos meus versos mais elaborados.
Fugir dos pesadelos, das baratas, das pessoas falsas, dos insetos todos...
Fugir de um destino que eu não quero.
De ser uma pessoa que eu não sou.
Seja invisível!
Não quero ser. O que faço?
Quero ser cheia. Feliz!
E triste, se quiser.
Quero ser eu mesma, sem peso ou obrigação de ser diferente.
Ocupar meu espaço. Estar completa.
E, assim, d-i-v-i-d-i-r.
E poder sempre começar, começar, começar...
Ao contrário do pejorativo:
"Vai começar?"
Um estímulo,
uma força motriz:
"Sim, vou começar.
E recomeçar, recomeçar..."

Pressentimento

Essa sensação que há em mim
De onde vem? O que me diz?
Por que não é mais clara
Mais útil?
Afinal, é só essa angústia no peito
O coração batendo em ritmo
fora do natural
É uma certeza sem sentido
do errado em meu ser.
Minha vida intuindo
um destino fora de mim
que eu não sei.
Avisando meu espírito
da direção, do lugar,
do perigo vindo, não se sabe onde
ou em quem...
Não gosto deste sentido
Um sétimo, talvez
A nada me leva,
não me faz feliz
Apenas prenuncia uma dor,
uma partida
que não posso evitar, apressar ou seguir...
É só uma dor, uma presença
tumultuando o lugar
em que habita minh'alma
inquieta, insegura em viver
neste bate-bate triste
desnecessariamente indiferente ao meu querer.

Encantada

Quero minha vida encantada.
Quero borboletas fluorescentes,
Palavras doces,
Burburinhos de amor,
Raios de sol dançantes,
Lábios lancinantes,
Dedos escorregadios
Sobre cabelos derramados.
Risos sem motivo,
Alegria de estar vivo,
Tudo enfim.

Escrever

Estou com fome. Estou com sono. Estou com medo.
É engraçado como posso sentir tantas coisas ao mesmo tempo.
O que há de mais magnífico é esta mistura. E, ao mesmo tempo, poder vislumbrá-la em separado.
Há uma música que diz: "porque desorganizando eu posso me organizar".
É isso o que percebo. Que sinto com todas as forças.
É assim que me reconheço: quando pego uma caneta entre os dedos e escrevo, me decifro, me descubro: sou eu.
Há quem acredite em missão, em destino ou vocação.
Eu acredito em prática e coragem.
A prática pelo hábito, quase um vício. A coragem pelo reconhecimento que se faz de si mesmo a cada palavra.
Escrever é o meu vício. É o que sou.
Sim, porque estou inteira nisto e sinto as coisas e as idéias fluírem naturalmente, sem complicações.
Porque sinto impossível manejar as palavras sem transformá-las... mas elas têm sua autonomia, seu sentido próprio, sua própria vontade até.. e à medida que se colocam, também me transformam.

Partida

Tem hora que se deve deixar os entes queridos
que se deve deixá-los...
apesar das saudades...
Deixá-los!
Como Jesus deixou Maria
pra seguir sua missão.
Sem remorso nem medo...
- covardias do coração.
Só deixá-los
para que sigam seu caminho
para que entendam sua direção,
e sigam finalmente
com persuasão.

Pobre de mim

Não adianta me dizerem que a vida é simples, porque não é. É complexa...
Para alguns, tudo tem dois lados.
Como pode ser simples?
Quando vejo os dois lados, enxergo tudo, e então fico muito decepcionada com o mundo e comigo.
Queria escrever tudo, mas tudo foge de mim quando eu persigo.
Vou ficar parada como criança que perde os pais no supermercado.
Pelo menos tomei banho.
Quando fico muito sozinha, sinto a loucura pertinho.
Dentro de mim, e sinto quase não resistir.
Daí quero muito chorar, mas hoje prendi o choro, apesar de continuar com a sensação de que não vale a pena.
Quando a gente fica muito tempo sem falar, os miolos vão fundindo, e a gente entende tudo. Daí a gente percebe que entende muito mais o mundo quando está louco, do que quando não está.
Acho que às vezes me sinto privilegiada com esta loucura. Entendi. Entendo. E não vejo graça.
Pobre de mim.
Vejo tudo e não tenho nada. Quem sabe muito, sabe disso.
Sabe que não adianta entender, nem explicar.
Que não há conforto, só momentos. Momentos de ilusão.
Quando não há gente que nos faça abrir a boca um pouco, a gente vai enlouquecendo e achando tudo sem sentido, e querendo ser outro, apesar de saber que não adianta.
A diferença entre mim e o outro é que o outro finge, e eu não consigo.
Finjo para os outros, mas não consigo fingir pra mim.
E todos fingem tão bem pra si mesmos...
Fortes.

Que dia é esse?




Um dia tudo de bom vai acontecer.
Haverá um dia em que os medos e as dúvidas não mais ficarão rondando como mosquinhas de bananas, e em que os girassóis da minha esperança não murcharão com o pôr -do-sol para depois se renovarem com a alvorada, disfarçando a sobriedade da noite com sorrisos.
Um dia apenas. De paz plena e cumplicidade verdadeira. Em que o sorriso será o que é por dentro e por fora e a maré apenas o vai-e-vém do mar, que é natureza: presente para os homens.
E este dia se estenderá por dias e noites, serão sóis e luas, e deuses guardadores contemplarão os entardeceres dos corações, repletos de inteirezas, sem frações de tudo o quanto preenche nossos afãs, pois não haverão. Tudo será satisfação.
Um dia para a vida inteira. Plenitude. Completamento. Para a vida inteira lembrar o que é preenchimento. Para o vazio do pensamento jamais continuar. E para a solidão se acompanhar, sempre grata de um dia.
Um dia de mais puro sentimento. Concretude. Visual. Não haverá lamento ou richa, ou cansaço ou estabilidade. Tudo será único e ameno, mesmo que esfuziando de paixão. Será explosão singular e universal, porque abrangerá o externo e o interno. O homem e o mundo.
Um dia de ventos quentes e abraços sem ameaça e risadas ardentes com pássaros e borboletas coloridas penduradas. Um dia com mares abraçando rios, e chaminés soltando fumaça da virtude e do bem querer.
Um dia de crianças correndo entre gramas altas, com brancas nuvens pendendo sobre suas cabeças, ornando o astro dourado e deslumbrante. Um dia imenso.
Um dia para as Marias e para as Anas e Clarices e Alices e Claras. Não haverão panelas grandes para tamanho banquete. E os homens não terão pressa, nem fome, nem medo. Terão um pouco de nós, já que o muito que nos damos não basta para dar-lhes coragem.
Um dia de solidariedade: único trabalho. Confraternização: verdadeiro espírito humano.
Um dia de músicas alegres, canções de infância e avós contando histórias verdadeiras, mexericadas pela imaginação, fértil como os ventres femininos, mas que não será ilusão. Como na matemática, estará para a realidade em igual proporção. Felicidade de dia.
Dia de vida. De grandezas e unicidade. Um dia que é o próprio objetivo, confundindo-se com a meta do amanhã. Combinar-se-ão espreguiçadas e alongamentos de corpos entrelaçados pelos olhos lacrimejando emoção realizante.
Um dia para todos. Para tudo. Para o homem. Para o mundo.
Um dia para mim.
Que chegue o dia.

domingo, 9 de março de 2008

Correnteza

A paz
Se constante, é como a água:
A vida morre parada,
degenera o que está vivo,
Perde a graça,
A alma,
Fica turva e poluída.
Fica assim: sem saída,
encurralada na própria calmaria.
Sem alegria, nem cor, nem amor.
É só estática.
Nem dor, nem ar, nem tom, nem clima
Só utopia física.
Deve ser por isso que Deus inventou o diabo!
Dentro da sua maior sabedoria,
infinita na ventania que varre
e no calor que dissipa,
já ele conhecia o segredo do projeto: movimento.
Arquiteto dos edifícios intrínsecos dos seres que criou
e da vida de que rodeou o homem,
conhecedor do pensamento
e criador de seus segredos disformes,
pincelou-o de fantasia,
de um pouco de doença,
de debilidade, afazia
e brochadas de crença.
Tudo misturado,
ficou louco, tresmudado.
Nem mais certeza, nem oco:
suficiente para movimento, para vida.
Movimenta aí, mesmo quem está no lugar, parado...
Te pega de mansinho ou acelerado, tanto faz.
Nem ela é a paz.
Paz é um sentimento remoto
e uma presença involuntária da própria alma.
É o desejo de todos,
mas quem a tem nem a nota.
É tão parada que não pesa,
tão serena, que não arde,
tão constante no instante que toma,
que nem se percebe quando passa,
que se sentiu: A paz.
E viver é correnteza de rio ora manso, ora revoltado.

Quem mente, afinal?

Sentar no meio da multidão
Solitária
Com o coração na mão e a mente voando
Arbitrária da vontade
No ambiente, um som invade
Ocupando o vazio do peito
E tudo continua tudo anda
Segue o pleito...
Mesmo com este sentimento de solidão
É só a gente,
O coração só mente, mente,
Pra gente acreditar
Que há alguém que ele possa povoar
Enchendo-o de recheio
Mente o coração
Vulcão fervendo quente
No inverno da solidão
No meio da multidão, tudo é frio,
É solitário, sombrio
É só a gente, se lembre!
A gente pra gente.
E que se agüentem as gentes
Que crêem no coração
Que só mente, mente, mente...

O sonho acabou

Nem para escrever
O meu sonho fica em pé.
Derrubei o meu sonho.
A quimera dos meus dias se desfez com dor cada vez que o sol se foi.
E acabei com o sonho.
Não dorme apenas a ilusão dos meus dias serem primavera em pleno inverno: estação desregulada, sem sintonia, fugiu, acabou.
Matei o sonho.
Quando levantei certo dia sem lágrima, nem riso, opulência ou força
Nem drama.
Raciocinei o sonho.
Descaso. Desprezo. Marasmo. Desânimo.
E os poetas descrevem o amor
E exultam a paixão
E sentem tanto...
Fantasia - nada sinto.
Vivo. Realizo. Banalizo.
Assim os dias não terminam em lágrimas.
Ou em prantos.
Sequer em dramas ou gargalhadas infames.
E as pernas levantam firmes o corpo no dia que amanhece.
Com a mente fresca e pálida enternecem-se meus tecidos e órgãos pela matemática dos segundos.
Mas há no meio um vazio que se não não seria deste mundo.
Quando se mata o sonho,
morre-se um pouco.
Medonho.
Nem falta faz porque é só falta tudo o que és.
A lógica enrijece músculos, tecidos, órgãos, pensamentos.
Robotiza o homem
Que não sabe amar.
Por que o que é o amor senão o sonho dos poetas?
Nem para escrever, mais presto.
O que há de resto senão a falta?
O nada.
Afinal, o sonho morreu.
Quem sou eu, então?
E para que os dias, sem as lágrimas?
E as noites sem estrelas?
E a energia que não há no chão?
Para que abrir as pálpebras
se é movimento repetido,
sincronia sem sentido, desnecessária?
Morreu o sonho.
Matei-o,
Fechem-se as pálpebras com as quimeras para sempre na terra.
Talvez haja nela ainda qualquer energia
Esperança... (resto de sonho?).

Chuva que despe



Ouço a chuva pingando...
A chuva não tem medo de inundar tudo com seus pingos gordos ou pontudos
A chuva é como um manto cristalino ou de amianto.
A água é como jóia menos densa
Que não veste, mas despe com pingos gordos e claros de nudez.
A água é nua é pura como uma virgem...
Atola, cristalina, os atóis de homens
Ou seus solos tórridos, vazios de alguém.

Ao paraíso, ao infinito, à fuga



Eu vou pro Maranhão...
Não importa!
Meu coração grita alto:
Vamos embora!
Vamos agora!
Antes do fim...
Eu vou pro Maranhão!
Que é terra de águas,
Terra de sol
E de inspiração.
Vou pro Maranhão
Fazer versos
E olhar o céu de perto,
Sem temer o final do verão.
Eu vou pro Maranhão!
Atrás de teto e sossego,
Atrás de afeto,
Atrás de ver de perto
Os sons...
Do mar batendo na praia,
Do ar assoviando,
Da saia pegando nas pernas,
Das asas voando
Além da minha imaginação,
Dentro dos meus neurônios.

Linhas certas

Eu só queria as linhas retas desta ficha na minha vida.
A planície comedida em lugar da amplitude
Das curvas sem saída, em círculos.
Eu queria o mar e o céu tal como no horizonte
Sem que fosse mentira distante
- Temos o ilusório, não se tem crédito, só terremoto.
Eu queria os peixes e as algas nas mãos.
Queria tocar a vida, senti-la com sentidos que não do coração.
Às vezes a sinto. É um instante.
Absinto.
Mas é remoto, sucinto.
Quero o comprido, o contínuo.
Arriscar é preciso.

Quem me carrega, fui eu quem trouxe

Uma menina
veio pra me acompanhar
Pra não me deixar sozinha
ajudar a minha vida levar
Veio pra cuidar de mim
a pretexto d'eu dela cuidar
Veio sem data marcada
Em breves "pisadas"
cinematográficas
em noite de luar.
A lembrança mais viva
são as badaladas do sino assim
BLÉIM BLÉIM BLÉIM
Cansou-me princesa...
mas te espero acordada
até o sol raiar
BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM
Te espero princesa
ainda não tenho certeza
mas aprendi confiar
BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM
Menina apressada
com leves pisadas
invadiu-me,
fez do meu corpo tua casa
para agora o deixar
BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM
Recordo esta hora
de outro lugar:
a notícia da tua vinda,
o teu anunciar
BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM BLÉIM
Era quase madrugada
e como hoje,
acordada eu aguardava
a hora H.
Você chegou
minha pajem pequenina.
Você finalmente veio.
Apesar do medo.
Apesar de tudo.
Apesar de cedo, tão cedo...
Sete badaladas do sino
Ou seriam sussurros?
"Mamãe seja firme
vim pra te acompanhar
Não se sinta assim
tão murcha...
Se esperava por mim,
não sabias. Hoje sabes.
Vim pra tua solidão carregar."

Releitura

Leio
Releio
É um apelo
Uma súplica
Atropelo
Leio as cartas que escrevo
E os sonetos que desfiguro
Releio o conteúdo
Sempre releio
À medida que o mudo.
Por isso sempre releio
O líquido contido nas laudas de papel enxuto
Nada tem de mudo
Talvez de surdo,
Talvez de cego
Dos tantos segredos difusos
Escusos entre as palavras
Confusos...

Charada

Fico procurando
Esperançosa em encontrar
Por aí, voando
A fórmula de estar de bem comigo,
Livre dos traumas,
Até das dádivas,
Das dívidas, das almas.
Esperança - tudo que me resta,
Fazendo festa nas minhas tranças e encruzilhadas:
Vida-vida-vida.
Mais tarde se revelam, mais que assíduas,
As charadas sem solução, sem saída,
Todos os dias importunando a criança,
Tola criança, crente na fórmula,
Na felicidade,
Na livre iniciativa,
Na potencialidade,
Na misericórdia,
Na fórmula:
Vida-vida-vida.

Um quadro

O amor é uma coisa que a gente nunca sabe...
O amor é um sorriso,
É um olhar sabido,
É uma inclinação.
O amor é como tarde pegando fogo no horizonte...
O sol laranja pondo-se e opondo-se à escuridão da noite.
O amor é como um quadro triste de águas dormindo e de aves se recolhendo.
Tem a floresta adormecida por cenário e toda a potência de seu sono.
Tem o sol derramado nas árvores, despedida...
Tem o calor da tarde - mas é fim de dia.
Um quadro triste que, enquanto arde, já se dissipa...
Apesar de tanta energia adormecida, potencial...

Prós

Sou otimista
Sou batalhadora
Vejo os dois lados
Não sou materialista
Não uso as pessoas
Não gosto de "jogos"
Nem de birra
Sou manhosa, de um jeito bom
Sou líder
Sou dedicada
Tenho autonomia
Sou alternativa
Sou boêmia
Sou saudável
Sou do dia
Confio em Deus
E no mistério da vida
Não esqueço as pessoas
Não banalizo
Reconheço
Sou grata
Tenho saudade sempre
De tudo
Quero fugir
Quero ser melhor
(E se quero, consigo)

sábado, 8 de março de 2008

Amanheça



De repente, os dias mentem uns sobre os outros, e as noites, cúmplices, silenciam a mentira aos poucos.
Com cada estrela que se acende, enterra a inverdade, transforma em claridade, ascende os ânimos, prepara a vida na Terra.
Com cada Lua, nova era, nova fase para o Sol que se levanta nas manhãs mais simples.
E com elas comemora a oportunidade do agora mutar-se em realidade de quimeras e belezas, de ilusão do tudo da vida, que são as histórias do coração.
Que a cada dia povoa as mentes serenas ou dementes, opacas ou apaixonadas, deliciadas pelas incertezas de cada noite e manhã, transformadas em poesias lindas, a cada ato, passo ou palavra, revelados com emoção.
Nem a rotina amarga.
O Sol e a lua  entendem-se nesta cumplicidade da novidade do amanhã.
Na escuridão que cai sobre as pequenas coisas.
Na claridade de novas chances, de luminescência dos semblantes e de perspectiva das manhãs.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Guardanapo

O amor pode ser apenas uma ilusão.
É isso que me desespera!
As coisas importantes que se vão como se não tivessem existido.
A falta de coisas permanentes.
Dando a impressão de faltar sentido.
Como se a vida fosse um teatro, de vastos palcos e muitos atores.
Como se a vida não passasse de encenação.
E os amores, de delírios apenas.
De doces suspiros de mais uma ilusão.

Etérea presença

A vida deste jeito me assusta
Dá um medo que é quase repulsa
A gente se acostuma a viver metade
E quando está completa, se arde,
Dói-se inteira, explode
Como se não coubesse dentro de si
Mas sinto paz, tranqüilidade, serenão...
Sinto o coração palpitando
As veias dilatadas
A mente em atraso
Mas só quero seus olhos
E as estrelas que deles caem
Quero granadas de amor
Rendo-me a essa dor de ter,
De te querer dentro
E de te fazer parte
Quero o sol do teu peito,
O seu sorriso enorme,
O seu pensar direito
Certezas são laços de engano.
Assim, nenhuma me faz
Nem a cabeça nem o coração
Mas estou entregue
Completamente
De corpo e alma
Sem posse, nem pretensão
Apenas calma de espera
Que sinto eterna carente de sua presença etérea
De sonho, de pulso, de amor
Pra sempre, enquanto for,
Tome a minha dor de amor
Único pedido.
Saiba dela, a aceite
O que pode acontecer?
Se não me mente?
Se continua existindo
Para meu contemplamento
Para "ilustrar" meu pensamento
Da realidade mais doce, mais quente
De que pode viver um ser?
Realidade de amor, de pele, de crença...
Sou toda paciência só pra ter seu coração
Sua, apenas. Apenas sua.
Menino dragão.



quarta-feira, 5 de março de 2008

Movimento.



Será?
Que tudo que é paixão é do diabo?
Será possível que tudo o que é tenso e agitado
Seja assim, por que é do mal?
Mas não será a vida movimentada pela turbulência e pelo nervoso?
Será que as coisas não se movem por que excitadas?
Que a vida não é vida por que á apaixonada?
Por que então é bem melhor e saciante a calma?
A tranqüilidade e a paz são segurança e abrigo.
Mas é perigo que movimenta.
É a música, o som, a luz, o rio.
O medo é quem move.
E o mal é quem o provoca.
Também a raiva, o desespero, o amor, a sobrevivência.
Por que então tudo o que parece parado é tão melhor?
Porque a vida que se movimenta, dói.
Anda, corre, salta, vive.
A vida de se viver é dolorida.
Como o crescer das crianças, o quebrar dos ovos pelas aves que nascem, a esperança da semente na terra que abre, pra desabrochar planta e pender em flores, ou frutos vivos, movidos, comidos depois pelo homem.
Dói viver.
Mas a morte não se comove.
Também se move.
Pelas partes do mundo todo.
Nos membros e órgãos gastos do corpo.
Pela enchente, terremoto, furacão,
Devastando o que encontrar, doente ou são.

Talvez, você não saiba... que, às vezes, o amor...

Você pensa que sabe o que é o amor, mas talvez não saiba...
Talvez não saiba que só o presente é amor.
Que o amor no fundo, é uma ilusão.
Um sentimento que vem de dentro e não, necessariamente, do outro.
Que o amor não é uma certeza, nem uma promessa.
É instável, frágil, um precipício.
De onde a gente se atira, de olhos fechados para o medo e de olhos abertos pra paisagem.
O amor não é uma história, algo remoto...
É algo que se constrói tijolo a tijolo, e que se vive, minuto a minuto.
Mas não tem previsão de tempo, data marcada pra começar ou pra extinguir.
O amor é o viver. É o sentir. Seu tempo é o do coração.
É medido pelo calor que se sente no corpo, pelo frio na espinha, pela sensação de completo, de feliz...
Não é algo concreto, material.
É um estado da alma. Em êxtase.
É ter um motivo pra viver, é um estímulo, um impulso.
Até quando há sofrimento, é assim.
Porque amar é ser humano.
É deixar a platéia, subir no palco, protagonizar as cenas mais lindas...
Viver o próprio filme...
O amor...

Quero janelas grandes como portas



Janelas grandes como portas,
Que se abrem pra fora.
Mundo sol, plantas, ares,
Expandem-se aos olhos,
Aos pares, aos montes.
Embora tudo o que por ela entre,
Continue lá fora,
Parece parte do interior.
Janelas que se abrem pro mundo.
Janelas dos olhos: meninas
Que se abrem para o amor.
Janelas altas e baixas.
Janelas de faixas, de frestas.
Aparam as arestas da escuridão.
Irradiam fina sensação
De paz e luminosidade.
Fontes de vida, de verde,
Que ora invadem o ambiente
Pela janela da casa,
Da choupana, da cabana ou construção.
Janelas para debruçar
Os sonhos, as lembranças, os desejos.
Ou os braços, o corpo inteiro.
Janelas para esperar
Quem se ama, quem se profana,
O mundo inteiro.
Às vezes uma parte dele,
Sem significado algum.
Mas que compõem a vista
Da janela, da casa,
Cabana, armação.
E, por isso mesmo, que sejam
Caixas ou lixos,
Praias, mares ou morros,
Barracas, rios ou favela,
São para seus donos significantes
Pois são a vista, são as cores,
Os raios de sol que dela partem
Reciprocamente, de dentro pra fora,
Do mundo pra alma que nela mora,
E da alma pra tudo nela debruçado,
O choro, a lágrima, o riso, a gargalhada,
O aviso, a imaginação.

Passa o tempo

Eu tenho vergonha
Porque o meu coração está rápido
Está daquele jeito que eu não gosto
E minhas mãos estão tremendo
Meu pensamento está tranqüilo
E o corpo está fresco
Mas eu estou tensa
Até outra coincidência
Expectativa densa
Estou viva, mas murcha, hoje...
Vou ter que esperar
Penso, Penso, Penso
Mas sem aflição
Sem paixão?
Saberá Deus?
Ainda é mais perigoso
Se é calmo, sendo tenso
Se é poroso e rarefeito, sendo denso.
Bem feito.
Quem mandou ser assim?

O Fim

A vida vai continuar
Mas eu nunca mais vou viver.
Posso sorrir, posso brincar,
Posso viajar e conviver,
Porque a vida vai continuar...
Mas pensando bem, olhando de perto
Verás: nada disso é viver.
Minha vida perdi, longe de você.
A vida vai continuar
Mas nunca mais vou viver.
Porque a vida é como um mar
Seco, sem você.

UM DIA BOM

Tenho vontade de respirar
fundo e intenso,
compassado, fluente,
aspirar do ar todos os afluentes,
os incensos,
as auras mais coloridas,
os dias mais quentes.
Sinto uma paz profundamente viva,
tranqüila como o rufar das águas
das cachoeiras nos meus ouvidos.
Que mágoas resistem
aos bons pensamentos,
aos afetos sinceros
dos entes queridos?
Quando os lamentos
são sentimentos presentes
se o coração explode aberto
e sacode de emoção?
Tenho vontade de respirar
como há tempos tive.
Em mim a vida revive,
como em alegre descoberta.
Ajo com serenidade.
Sentindo a intensidade de cada momento.
Porque existe a felicidade enfim,
em mais de um instante.
Constante mesmo na distância
dos corpos que não se amam.
E porque em mim, a esperança,
não é carência de episódios.
É apenas a vontade da existência
gritando mais alto,
com ódio da auto-piedade,
confiante de si mesma.
Sinto um fogo que arde
mas não é dor.
É certeza de continuidade
é magia de amor.

DESESPERO

Eu sei como deve ser.
Sei tudo como é.
E é isso que dói.
Eu tenho vontade de morrer.
Cheia de vícios como sou.
Só morte de herói.
Posso até ouvir o som.
Da navalha rasgando a carne.
Do sangue pingando no chão.
Até vejo o baque
Do corpo caindo morto.
Sem vida, sem alma,
Bah! Que sonho
Louco sonho, louca fuga
Que sorte
Eu nunca fui atendida
Em prece
Nunca fui socorrida
De um desejo, um pedido
Nunca fui querida
Por santo nenhum
Deus, o que foi que eu fiz
Pra que me deixasse assim só?
O que foi de tão grave?
Quantas aves marias
Pagarei até que pare
O isolamento torturante
O vazio do perdão?
Me leva. É o que peço.
Por último de tudo, rezo
Me leve deste vão
Mundo vão
Plano vão
Passo em vão
Como vão os minutos sem inspiração
Como fica a falta de tudo
Mundo vão
Do meu suplico surdo
Fica o grito mudo
Deus, me leve,
Me deixe leve,
Me faça sã.

Corpos nus.

O sol, redondo, amarelo,
a areia quente:
espelho hediondamente esparso
chão de presente
para corpos expostos
e ao relento grudados
como pra sempre.
Do azul com o amarelo, o verde.
Do suor com o beijo, sede.
É paixão de cores quentes
em cenários diferentes,
separados, congruentes...
Céu mar, bocas, rostos.
Elos de natureza e gente.
Sorrisos soam crescentes
conforme crescem as correntes
marítimas, rítmicas,
inebriantes maravilhas,
movimentos, sons,
sincronia fervente
como encruzilhadas de rotas,
como deságue de rios,
explosão, nascimento, cio...
Como êxtase...

A cada dia, um dia... Em vários dias, a vida...

Cada dia os dias são diferentes e mexem com a gente de um jeito.
Com uma magia ou um terror...
Se não é mal de amor é mau humor ou harmonia ou euforia ou tédio.
E os sentimentos se renovam e morrem...
A cada dia um assédio...
Ou do vento ou do sol ou do amado ou do amigo.
E as risadas disparam, às vezes sem motivo.
Ou as lágrimas caem de torpor ou tristeza ou perigo.
A cada dia um dia.
Em vários dias, uma vida.
Quantos amores? Quantos sorrisos?
Quantos lugares? Quantos abrigos?
Os dias e as noites interagem alheios aos medos, aos horrores, ao desassossego.
Como vivos, como lares contém o destino.
Dias, dias, dias!
Que iludem os que agem como senhores de sua sina.
 E surpreendem vorazes as pessoas em desaviso.

Nostalgia.

Sinto falta das coisas que passaram.
Nostalgia.
Anseio pelas coisas que virão, mesmo que iminentes.
Euforia.
São rostos e momentos.
Sonhos e músicas.
Ventos... quentes e frios, e tempos...
Lúdica a memória e ansiosa a alma em viver.
Para recriá-la, (a memória) mais e mais a cada dia.
Como se a vida escapasse junto com os dias que se vão.
E a memória tivesse sede
Enxurrada de emoções para saciar o coração, que se esvazia...
E sobrevive de recordações.

No escuro.

Pessoa...
Que é o fundo de minha alma,
Meu espelho, minha risada,
Minhas mãos esparramadas...
Vê meus sentimentos em relevo?
Quanta saudade, quanta mágoa,
Quanta incerteza, quanta falta,
Um sentimento tão denso,
Uma falta tão remota,
Parece que uma inveja,
Tão grande conspiração,
Remonta às origens,
Pra separar nosso coração...
Não vê?
Meus olhos lacrimejam,
Meu coração chora,
Minhas rugas aumentam,
Meu corpo implora:
Você Você Você...
Meu ser de volta.
Meu todo. Meu ar. Meu prazer.
Minha vida de novo.
Com sorriso e sem hora.
Pra ser o que sou,
O que quero ser,
O que vou ser,
E onde irei...
Só você, você, você!
Em meu coração a metade,
Em você a saudade
Que mata o sonho...
(O que restou aqui dentro.)...
E aumenta o lamento...
Quanta incompletude!
Pra quê?
De que valem as virtudes,
Sem você???
Meu paraíso, meu todo, meu ser...
Você, você, você...
O que ser, sem você, aqui e além????
Sofrer... sofrer, sofrer...
Talvez ainda viver,
Só que de olhos fechados pra sempre
No escuro e sem... sem, sem, sem...