sábado, 12 de dezembro de 2009

Um dia de tarde



Um dia de tarde,
Outro que arde. Não se sabe
Como será ao anoitecer.
Contemplo minhas emoções
Faço delas paisagem
Em que serpenteiam minhas frases,
Palavras vorazes
Petrificadas em versos,
Muitas vezes tão fugazes
Quanto as inspirações.
Ser humano assim que sou
Sedenta de entendimento,
Inconformada com passatempos
Com quinquilharias, tranqueiras
Fico na beira, à espreita
À Espera de explicação.
De um entendimento integral
Onde até o mal faz sentido
E o lamento é insensatez.
Um dia de manhã,
Outro amanhã,
E outra tarde chega, com vagareza
E média tristeza
De quem quer volver
A tempos mais dóceis,
Mais amenos e fáceis,
Seja na cama, ou na infância
Ou ao nascer.

Querubim

Você é bom
Porque os anos são tenros
E a mente é ampla
E a alma é solidária
E teu tom é de risada.
Não sei porquê você é bom,
Porque te vejo assim.
Só sei que sinto em mim
O que sobressai em ti.
E é este som:
De você dizendo: Amor,
Pra mim, que sou apenas isso
Não mais que isso,
Pobre assim.
E cheia de dores, horrores,
Histórias, lágrimas, credos.
Sei que és bom porque não tivestes medo
De meus medos tão sinceros,
Tão covardes, tão dispersos,
Espalhados pelo mundo,
Por tudo, enfim.
Sei que és bom
Porque, em mera passagem,
Tivestes, ainda, visão e coragem
Palavras pra mim...
Tão fantasmagórica, performática,
Tão invisível que estava
E ainda assim...
És bom e melhor
Porque é de pouca idade
E muita fé, (apesar da dúvida)-
Como eu. - Sim...
Tu és bom. Porque és menino,
Porque és sereno, és um índio
O sílvicola de meus caminhos,
Atento ao vento que sopra
Às pétalas que se soltam
Com o tempo ruim.
És não só homem bom,
Mas pra mim, quase uma dádiva,
Uma nova estrada,
Um querubim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pulsos.

Como posso ser livre? Como posso ser artista? Se não houver respeito sobre minhas decisões e vontades? Sobre meus pensamentos e liberdades? Iniciativas e rumos? Amizades e amores?
Temo não poder agüentar. Pensamento fixo em pulsos. Talvez eu não resista, se o inferno recomeçar.
Tenho tanta dificuldade em tornar-me o que sou, livre e pensadora. Sem amarras. Moral. Religião definida.
Artista. De coração.
Não sei se resisto, se tudo recomeçar... Aquela discriminação e, aquele corte, que recomeçará de onde parou, sendo que já é fundo. Não estancou em mim o sangue daquelas feridas. Apenas escorre mais devagar, em gotinhas.
Mas nada garante que, de uma feita, não torne à hemorragia de antes.
Pulsos cortados.
Uma vida. Estagnada. Vazia. Porque não tem guia, nem dona. Porque segue a esmo, desvalida.
Não a suporto.
Se não há direito à escolha. Ao erro. Ou ao acerto.
Ninguém sabe os limites do outro.
Hoje já posso escrever nas paredes. Não necessariamente em vermelho.
E, talvez, materializar na carne as profundezas da alma partida, dilacerada em dores seguidas.
Penso em minha filha, apenas. De seu caule, sou as raízes.
Mas, no desespero, vejo a cena, como em cinema, em reprise.
Pulsos.
Hemorragia.
É minha vida que grita, no vermelho e no quente do sangue. E, à medida que escorre, o sumo do corpo encontra o ar e o futuro.
A liberdade. No corpo sem prumo. Na alma escorrida em hemácias, em anatomia desnecessária.
Não sei se resisto.
Mas, até no fim, insisto.
Ser como Simone de Beauvoir. Ou como uma Joana D’Arc agnóstica. Mas ser o que quero ser e sou. Sem medo, pena ou boicote.
Não sei se resisto.
Mas não posso mais mentir pra mim.
Não ser o que sou, já é o meu fim, mesmo que eu siga.
Pulsos.
Não sei se resisto.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Caixinhas de sapato



Caixinhas de sapato
Para quinquilharias,
Lembranças, cartas de amor,
Fotografias.
Caixinhas de sapato,
Guardadas no armário,
Esquecidas no fundo do sótão,
No assoalho
Adormecida com as velharias
E com o passado.
É, na memória,
A morada da madrugada
Dos dias já passados,
Das noites já dormidas,
Dos amores apagados
Pelo opaco da noite,
Que é tempo escorregadio,
Ventando com os rumores
Que restaram do que passou
E agora é vazio.
Caixinha de sapato
Debaixo das camas,
Enfiadas nas cômodas,
Nas estantes empoeiradas.
Como caixas mágicas,
Com truques e relâmpagos,
Flashes instantâneos
De nostalgia, contidos.
Caixinhas de sapato,
Para o que ficou pra trás,
Mas não pra sempre perdido.
Pra guardar o que há
De importante ou de bonito,
O que não se lembra mais,
O que é só capítulo.
Como um livro,
O filme da vida é fluido,
segue em frente,virando páginas.
E assim deve ser, ainda,
O que passou: Escondido
Numa caixa de sapatos,
Ou num “pen drive” antigo,
Pra ser um dia revisto
Redescoberto com susto,
Alegria ou alívio.
Caixinha de sapato,
Para o que é passado,
Para o que não é mais retrato
Do fato, do agora,
Do sentido.
Pra quê pendurar o passado,
Como um colar ou brinco,
Todo o tempo à mostra
Como um retrato?
Se já foi, se só é história,
Se é parte do relato
E jamais torna?
Caixinhas de sapato
Para as memórias,
Para os jornais,
Para os suspiros.

Terra tomada





Amizades disfarçadas
Ou liberdades tardias?
Não importa!
O tempo é passado.
Fecharam-se as portas,
Passagem interrompida.
Coração tomado. Repleto.
Totalmente preenchido.