sábado, 17 de julho de 2010

Minha coleção

Minha coleção de textos
Minha coleção de músicas
Minha coleção de erros
Minha coleção de versos
Minha coleção de fotos
Minha coleção de medos
Minha coleção de sonhos
E de lembranças
Minha coleção de besouros
Que trombam desajeitados
Nas paredes intrometidas
Minha coleção de cores
Minha coleção de imagens
Minha coleção de amores
Minha coleção rara
De jóias desconhecidas
Minha coleção gigante
De letras brincalhonas
Que se unem em quadros
Valiosos como ouro
Minha coleção de fatos
Minha coleção de lágrimas
Minha caixa de tesouros
Minha coleção de dores
De tristezas incontidas
De perspectivas vazias
E de momentos felizes
Minha coleção de palavras
Minha coleção de caixas
Repleta de recordações
Repleta de cartazes
Que alardeiam ao mundo
Tudo o que passa e arde
Nos corações feridos
Nas almas aturdidas
Pelas emoções várias
Capazes de provocar risos
Ou prantos contínuos
Minha coleção de vida
Minha coleção solitária
Minha coleção de azuis
E de rosas e marrons escuros
Minha coleção de vozes
E de sons tão lindos
Minha coleção única
Que me incentiva e inspira
Todo dia apesar da poeira
Da noite ou das cruzes
Minha coleção de luzes
Minha coleção querida
Meu blog que me salva
Da falta de companhia.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dádiva e emoção


Estes últimos dias
Músicas várias me preenchem
Como se eu estivesse vazia
Vazia de poesia
E então fico a pensar
O que será toda esta rima
Que não me deixa
Que me alucina
Toda hora
Dia após dia?
O que será 
A emoção que contagia
Que me enche de mim mesma
E da beleza fina
De uma voz macia
Cantando o amor
Não correspondido
Senão minh'alma
Sempre cheia e zunindo
Na mais linda poesia?
Que ora se esvai em água
Ora escapa em versos
Ou em admiração sincera
Da dádiva que mora perto
E dentro de um grande poeta?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Por causa de um abraço



Por causa de um abraço
Eu quis tudo.
Por causa de um abraço
Fofo e fundo,
Eu quis muito mais
Que o limite
Daquele poço.
Eu quis cavar em terra dura
À procura de diamante
Onde só havia pedra
E animais minúsculos. 
Quis eu encontrar seguimento
Na minha procura de dois
Mesmo em solo infértil
E árido.
Um abraço apertado e quente
Uma tarde de sol poente
Em minh’alma enternecida
Na busca do que é infinito.
Coração
Em outro coração premido,
Em batidas rítmicas envolvidos
Em nubladas decisões.
Tomadas sob a influência
Da carente essência
E do calor e compasso
Cadenciados no embalo
De dois seres
Num abraço bom.

domingo, 11 de julho de 2010

Outro de mim




Há pessoas que têm medo de palavras. Medo de palavras feias, de palavras que machucam, de palavras que transmitem sentimentos de dor, de mágoa ou de luto. Como se não pudessem lê-las sem perder a capa que as protege dos sentimentos ruins. Como se não pudessem ouvi-las e continuar a seguir sendo elas mesmas. Há pessoas que preferem não ver e não ouvir. Sou assim também, às vezes. Mas gosto tanto de escutar como um poema, uma história, uma canção, podem dizer tanto sobre um sentimento que às vezes não conheço, mas que reconheço como se o tivesse vivido. E quando já o vivi então, é como se encontrasse um abrigo, como se reconhecesse que existo, que faço parte desta espécie tão ambígua, tão cheia de tampos e vigas. Ouço falar da saudade, na música de Chico, e sei que, mesmo se nunca a tivesse sentido, saberia o que significa, com o fundo de minha alma, com minhas lágrimas mais escondidas. E não me assusta a tristeza, a dor, o amor, a loucura. Assustar-me ia se não fosse da natureza deste ser que é você e que sou eu. Mas se todo mundo é assim, por que não tocar e sentir, por que não ouvir, por que não se ver nas palavras que sangram ou sorriem? Por que não se abrir pra todas as sensações de que se é capaz sendo assim: de carne? Não gosto do que é triste, mas gosto de sentir que sou igual a outro de mim, às vezes desejando o fim e às vezes imensamente capaz de persistir.

Anéis imperfeitos



Passo os dedos
Rente ao couro cabeludo
Sinto curvas, nuances
Anéis de cabelos que rodeiam
Retomam o formato original
A sinuosidade única
Dos pensamentos
Similares à rebeldia
Dos cachos avessos
À disciplina e comportamento
Não me reconheço
Com esta moldura lisa
Obediente e concisa
Adequada à moda dos dias
Indiferente à minha idiossincrasia
À mania de ser o que sou
À revelia de aceitação
Admiração
Ou sintonia
Quero de volta a cara e o cabelo
Que nasceram comigo
Cor, formato e enredo
Difícil todo dia
Mesmo que não desembarace
Mesmo que jamais se ajeite
Mesmo que me torne mais cheia
Mais infantil e mal feita
Quero encaixar os dedos
Naqueles anéis imperfeitos
Que formam os bravos e finos
Cachos de meus cabelos.

sábado, 3 de julho de 2010

Pérolas no lixo



Existem pessoas que são como flores
Semeadas no deserto.
Pessoas que têm doçuras
Não se sabe, vindas de onde
Ou por que.
Pessoas que são flashes
De luz na escuridão.
Pérolas tão branquinhas
Escondidas na oclusão.
Pessoas assim são dádivas,
São presentes divinos.
São pedaços de sol
A iluminar o caminho.
Sementes pequeninas
Espargidas entre gravetos
De terra infértil e hostil.
São nuvens carinhosas e fofas
Num céu cinzento e repleto
De agruras e arrependimentos.
Com sua claridade e textura
E melíflua melodia,
Neutralizam o mal sentimento,
As caras feias, os gritos,
A amargura de quem é sombrio.
Povoado de trevas
Ou vazio.