terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ei menino

ei menino
olha pra cá
não vá fugindo
é isso aqui ou nada
às vezes é melhor jogar a toalha
enquanto se tem a cara intacta
se se envergonha, não enfrenta
ei menino
conta-me um segredo
mas que não seja seu
que não aguento
ei menino
qual é a estrada que não dá no centro?
prefiro rodear as beiradas
tem coisas que eu não intento
ei menino

domingo, 18 de dezembro de 2011

Canção dedilhada

Ele me executa dedilhado
depois que me captura
entre as linhas de um texto
e me prende nas cordas
do seu instrumento
então me toca com dedos
de quem me decifra
e eu escapo ao vento
na sua voz de pássaro
e despertenço às cifras
voluteio no ritmo
e preencho o silêncio
com essência de flor

a música é de amor




Papo sobre o tempo

Nos dias nublados, silêncio,
E torpor, nos dias de sol.
É doce a chuva no inverno,
As noites de lua,
As estações.
No verão, há tormentas que assustam,
E quem repudie o vento.
Benditas marés que varrem
Os maus pensamentos.
Dos rios, raios de luz se catam
Com as mãos.
Fantástico fenômeno do universo,
Elementos do sobrenatural.
Imerge com o ínfimo,
Rende-se ao completo.
Sê pequeno e contenta:
Sua inteligência controversa
Não domina o clima,
Nem dita as correntes.
O Magnífico não te pertence.
Contempla.

analgésicos

acontecimentos que escapam de mim
rumam soltos por aí
analgésicos
pílulas prescritas que se engolem
sem receita médica
tomam-se com melodia a qualquer momento
como quem respira sonhos
e ri enquanto
caminha por vales secretos
entre virtumanos

My lord

My lord,
Escapaste de uma cena de filme,
Desses de época.
Sua palidez me inquieta.

De perfil, és bonito
E de fora, cândido e sublime.
Quem dos Beatles preferes,
Senão George Harrison?

My lord, poeta,
Prossegue.
Obscurece com tuas vestes
As lágrimas,
Impassível.

Anda ereto e leve,
Qual crista de ondas
Invisíveis
E     r  e  s  p  i  r  a  .
A vida não dá trégua.

My lord,
Não compreende,
Navega.

Amor de amante


Escutei aquele som
E num instante fiquei on
Uma melodia Freestyle
E palavras dizendo lugares
Dois olhos castanhos vidrados
E uma voz grave
O coração Tum Tum Tum Tum
Viajando nas notas
Se largando nas voltas da canção
E dos seus lábios frizantes

Os amantes
Nem sempre se tocam

A natureza retumbante
Das ondas viciadas
Entrelaçam em galhos
Música e letra
Orvalho sobre os carros

Tudo é romance
Entre as palavras
E os timbres não trocados

Os amantes
Nem sempre se tocam
Perfeito, o amor inventado                                                                                                         

Quizumba

Essas palavras de óchente que ocê diz, ó nega
No aceite do meu bem
Me atentam

Essa quizumba que ocê carrega, ó nega
Ginga por dentro
Apimenta o meu querer

Essas trança que ocê amarra nos cabelo
Ó nega
São meu tormento

Óchente a vida que enfrento
Pra te ter por perto

Em ti eu me aperto
E espremo em concreto
Esse seu não sei quê, que me interte

Ó nega, deixo aqui em verso
O teu beijo 

Vem pegar

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Tristeza de fim de ano

Eu carrego uma tristeza que aumenta com o passar dos meses do ano.
O molhado dos seus olhos me volta, com cândida insistência.
Cada coisa que eu aprendo, cada novo papel que represento, me alimenta esta tristeza, saudosa de um tempo ingênuo.
Esta tristeza que eu carrego não pesa, é como pena. Mas de vez em quando escapa uma no ar, voando ao vento.
E quando chega dezembro, ela assovia com lábios gordos no meu ouvido tristonho.
Esta tristeza de um tempo em que ser presa parecia uma maneira de driblar a solidão.
Mas hoje, neste chão de algodão, tão instável e delicado, místico e nostálgico, que anuncia o verão, sondam-me seus olhos cansados, faltam-me seus braços ao redor.
Prendo-me na liberdade e no amor pulverizado pelo ar de um lugar pra onde eu fui empurrada por suas mãos covardes.
Mas já não me abrigo em claustros. Meu ser cavalga pradarias, transcende os limites da moral.
E ama sem destino ou ilusão. Um amor quadriculado de minúsculos e infinitos quadrados vazios.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

No que eu acredito

Não vou acreditar no que você me diz, porque você o faz com palavras corretas, e com muitas delas, tudo o que sente por mim. Mas, por mais que eu não queira, acredito nas palavras que escapam de você, de sua pele, dos seus gestos, dos seus olhos atentos. Acredito nos seus passos que vêm em minha direção, e na sua atitude de ficar estanque, à minha espera, quando percebe ter se adiantado demais e se apartado de mim. Não acredito na exclusividade que você me promete, mas acredito nos dias que você me dedica e se abstém de tudo o mais e até se esquece do lugar em que está, pra me fazer companhia online. Não posso acreditar nas suas promessas e planos, no futuro que você me entrega, mesmo sem dominar. Mas acredito nestas sementes que você planta a todo momento e que rega com lágrima de emoção e esperança. Não vou acreditar em objetos ou coisas que nos prendam um ao outro, conveniências. Sequer em objetivos comuns, sociedade. Vou acreditar que sua emoção e sensibilidade, sua música e seu desejo de humanidade, nos conduzirá a uma dimensão maior, para a qual já rumamos. Vou acreditar no nosso aperto de mão, esteticamente improvável, e na candura desta união. E em Deus, que nos apresentou um para o outro neste momento de sonho, não se sabe se meu ou se seu, derretendo-nos juntos, como metal que se funde pra formar uma jóia que brilha, ou uma peça fundamental na engrenagem da vida. Portanto, não se preocupe em falar. As coisas em que eu posso acreditar, não são as vistas, nem as ditas. São as que transparecem sob as vestes e sob os sorrisos. As coisas que eu posso crer, são as que se evidenciam apesar de toda tentativa de disfarce.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

traição musical

estou te traindo neste momento
só tenho olhos e ouvidos pro Paulinho
e as palavras que ele diz me levam a uma casa
no pé da serra, rodeada de verde, vigiada
por pássaros de grandes asas
o telhado tocando o céu azul e alaranjado
e então eu vou entrando e abrindo portas:
corredores imensos, e segredos se abrem
e todos os cômodos estão tomados,
atmosfera densa de sonoridade, e isso me inebria
é música com poesia, numa linda voz masculina que não é a sua
estou a trair-te neste momento
perdoe-me mas é assim que eu escuto música
no instante em que me jogo nela
não há mais nada e sou exclusivamente apaixonada por suas notas
até que meus ouvidos não possam com o mesmo som
mas aí, a traição já está consumada
- alerto desde agora: há traições como esta que arrasto pra vida toda
esteja preparado e ciente
me aproprio das melodias por que me apaixono
e elas me acompanham num momento ou pra sempre
estrada afora, rs, ou mar adentro

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Posso ser

Posso ser um pedaço de sonho
Uma maça antes da mordida
Posso ser uma nuvem risonha
Uma estrela sozinha
Posso ser um amor platônico
E aquilo que você não alcança
A lâmpada da esquina
A moça da fotografia
O plano que não se realiza
Posso ser um passarinho raro
Que beberica no beiral da janela
Posso ser as cores apáticas
Da sua caixa de lápis
Aquela pintura em que você penetra
Tardes e tardes seguidas
Na pinacoteca
Posso ser aquele amor de infância
Que você não confessou
Posso ser o perfume da dama
Que acompanha suas noites
Posso ser a página do livro
Que você arrancou
Uma tarde de maio
Um desejo velado
Uma jura de amor
Posso ser o raio que se enxerga no horizonte
Numa noite de tempestade
Posso ser uma música suave
Que não te abandona
Posso ser uma colcha de retalhos
Uma cantiga, uma ficção
Posso ser uma cena de filme
Um docinho de aniversário antes do parabéns
Posso ser seu recorrente brocardo
Seu insistente refrão
Posso ser aquela chuva que não molha
A sombra que não se decifra
A chama da vela que não apaga
Posso ser uma letra num papel de carta
Uma imagem deturpada de verão
Posso ser um pôr-do-sol
Um bocado de feitiço
Um querer sem razão
Posso ser algodão doce na saliva
Uma imagem de televisão
Posso ser todas as coisas findas
E as que não se materializam
A eletricidade, o som
A felicidade, a imaginação
Posso ser

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Vive como escreve

Quanta bobagem
Não pensa
Vive como escreve
Sem vírgulas
Só muda as fases de linha
Como muda as frases
E de palavras quaisquer
Faze um verso
Um poema
Um universo paralelo
Uma passagem secreta
Um esconderijo
Caminha como quem canta
Esquece as verdades
Desliza
Patina sobre o gelo
Nada é tão seco que jamais escorregue
Não se atenha aos erros
São teus companheiros
Vive como escreve
Beija como quem navega o abstrato
Ou caminha sobre a água
Não esquenta
Se houver voltas estranhas
Em sequencia
Escreve como quem ama
E vive sem planos
Deixa estar
O poema mais belo
Como a vida
Também não se decifra