sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Coração camuflado

Eu invejo os corações que não ardem, aqueles corações serenos e estáveis. Aqueles corações que se contentam em ficar, ficar, ficar, porque sabem que o ficar é sempre tão passageiro. 
Mas meu coração não é assim. Meu coração é inflamável e requer adicional de periculosidade. Incendeia tudo - a mim primeiro.
Por isso ando por aí, craquelê de cinzas, vulnerável ao primeiro sopro. Já queimei inteira. 
Então fique longe, não se aproxime. Você vai querer que eu entenda, vai querer que eu reflita, que eu esteja. Mas eu... eu sou apenas os restos da fogueira.
E tenha cuidado! As cinzas têm calor, ainda queimam, além de poder sujá-lo inteiro com a fuligem da minha resistência.
Você pode sentir-se na trincheira, com o rosto enegrecido, camuflado, se você disser e se você tentar e se você quiser e se você teimar e se você soprar.
E tudo virá contra si: uma poeira quente e intensa, capaz de sujar, de queimar, de entupir seus ouvidos e olhos, os seus buracos corpóreos.
Jamais de perdoar, entender, esperar.
Sinto muito. Eu queria ter um coração em paz. Mas o que ficou em mim são só vestígios e pó. Só as brasas, só as chagas, nenhuma dó.

Um comentário:

  1. Essa é das minhas preferidas, tão intensa, vai tão fundo. Meu coração é como o seu, ou o da personagem aí descrita.

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