sábado, 24 de setembro de 2011

E ela se despedia com a boca arreganhada, sem dó.

Da cama, ela me olhava. Escancarada, repleta, pequena pra tanta bagagem. Transbordavam dela, meses e surpresas. Estava grávida de acontecimentos. E a distância escapava pelas beiradas, numa outra blusa de frio, num pedaço de coberta. Ela me olhava despudorada e insensível, com afronta. E com sua boca arreganhada e, vomitando roupas, dizia sem misericórdia que ia.
A despedida era aquilo! Uma mala grande e cheia, transbordando e sorrindo com dentes de zíperes maléficos.
O adeus era uma mala no meio do quarto: despudorada, inquieta e sádica.
Mas no peito, era mais. Era de se conter e se expandir, de se ignorar a indiferença confessa no desleixo da safada. Entre todas aquelas coisas futuras, sonoras gotas de chuva contrastavam, presentes. O prato da amargura estava de cabeça para baixo.
Que importava o aceno? Nunca se sabe ao certo para onde vai, apesar da partida.
O gosto das coisas varia, conforme o paladar.
Mas a mala não se continha, sorria sem piedade pra mim, como quem soubesse que eu represava lágrimas. Quase humana. 

2 comentários:

  1. Não boba, ela sorria por agradecimento e crença de que se cumpriria a promessa de que um dia você também estaria lá, no lugar do seu destino. La, boa sorte e muitas felicidades pra nós. Bjs eternos e azuis de arraial.

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  2. Fica mais um pouco nesse seu olhar... leve como um sonho... vai...que tal irmos juntos nesse caminhar???... sonhos muitos, outros mundos, ai...! - que vontade de chorar!

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