terça-feira, 2 de agosto de 2011

A árvore e o passarinho


Tu andavas por aí, passarinho, com teus penachos empinados e teu andar saltitante, de galho em galho, florindo. Mas, de repente, encantaste-te com cascos gastos e falhas de uma velha e grande árvore, sobre um rochedo distante. Quiseste ficar por ali. Juntaste teus gravetos em ninhos e deliciaste-te sossegado, à sombra dela. Mas, um dia, aconteceu que de tanto enfiar-te nas fendas daquele casco, decidiste não mais voar, quis tornar-te árvore. E a árvore não pôde crer, que tendo você asas, invejasse seus galhos de cascas. Mas, depois que te aninhaste debaixo da árvore velha, teu voar parecia triste. E a árvore rechaçava: o que seria de ti, se os pezinhos que saltitavam, enraizassem? Se de tanto com ela trocar, virassem madeira de árvore? Então, propuseste dormindo, em sono de olhos vidrados que não dormem: - que tal se ela criasse asas? Mas não era possível, bichinho! – cada organismo faz sua viagem seguindo a vontade original, que rege o inalcançável. Então, ficaste passarinho, parado como um objeto manipulado, empoleirado nela, em estática. E, enquanto teu amor durava, tornavas-te parte daquele tronco, como cuco de relógio. Até que num dia bem lindo, uma brisa mais forte bateu na quina de teu bico e ouviste teu amor sussurrando baixinho, no farfalhar das folhas caindo: Amo-te, passarinho. Muito. Parta com tuas asas, serei sempre tua casa. A vontade é que faz possível, uma possibilidade. - E tu, que já sentias o corpinho e asas tesos e sem engrenagem, como um bicho empalhado, entendeste o amor que alcançaras. O encanto de ter-te encantado por uma árvore-árvore, é que aquele era um amor casa, e sempre que voltasses, poderias escarafunchar-te debaixo de sua copa cheia e viva. Não era um amor de ave, não era uma árvore-ave, não era uma arve. Era só uma árvore onde podias ancorar tuas cansadas asas. Então, sacudiste as penas, arrebitaste o corpinho e saltaste. Voaste para o vento e voltou tua cor e teu movimento. Mas teu amor ficou e, de quando em quando, voltavas pros calabouços tão ternos, da árvore que amavas.

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