Como posso ser livre? Como posso ser artista? Se não houver respeito sobre minhas decisões e vontades? Sobre meus pensamentos e liberdades? Iniciativas e rumos? Amizades e amores?
Temo não poder agüentar. Pensamento fixo em pulsos. Talvez eu não resista, se o inferno recomeçar.
Tenho tanta dificuldade em tornar-me o que sou, livre e pensadora. Sem amarras. Moral. Religião definida.
Artista. De coração.
Não sei se resisto, se tudo recomeçar... Aquela discriminação e, aquele corte, que recomeçará de onde parou, sendo que já é fundo. Não estancou em mim o sangue daquelas feridas. Apenas escorre mais devagar, em gotinhas.
Mas nada garante que, de uma feita, não torne à hemorragia de antes.
Pulsos cortados.
Uma vida. Estagnada. Vazia. Porque não tem guia, nem dona. Porque segue a esmo, desvalida.
Não a suporto.
Se não há direito à escolha. Ao erro. Ou ao acerto.
Ninguém sabe os limites do outro.
Hoje já posso escrever nas paredes. Não necessariamente em vermelho.
E, talvez, materializar na carne as profundezas da alma partida, dilacerada em dores seguidas.
Penso em minha filha, apenas. De seu caule, sou as raízes.
Mas, no desespero, vejo a cena, como em cinema, em reprise.
Pulsos.
Hemorragia.
É minha vida que grita, no vermelho e no quente do sangue. E, à medida que escorre, o sumo do corpo encontra o ar e o futuro.
A liberdade. No corpo sem prumo. Na alma escorrida em hemácias, em anatomia desnecessária.
Não sei se resisto.
Mas, até no fim, insisto.
Ser como Simone de Beauvoir. Ou como uma Joana D’Arc agnóstica. Mas ser o que quero ser e sou. Sem medo, pena ou boicote.
Não sei se resisto.
Mas não posso mais mentir pra mim.
Não ser o que sou, já é o meu fim, mesmo que eu siga.
Pulsos.
Não sei se resisto.
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