Caixinhas de sapato
Para quinquilharias,
Lembranças, cartas de amor,
Fotografias.
Caixinhas de sapato,
Guardadas no armário,
Esquecidas no fundo do sótão,
No assoalho
Adormecida com as velharias
E com o passado.
É, na memória,
A morada da madrugada
Dos dias já passados,
Das noites já dormidas,
Dos amores apagados
Pelo opaco da noite,
Que é tempo escorregadio,
Ventando com os rumores
Que restaram do que passou
E agora é vazio.
Caixinha de sapato
Debaixo das camas,
Enfiadas nas cômodas,
Nas estantes empoeiradas.
Como caixas mágicas,
Com truques e relâmpagos,
Flashes instantâneos
De nostalgia, contidos.
Caixinhas de sapato,
Para o que ficou pra trás,
Mas não pra sempre perdido.
Pra guardar o que há
De importante ou de bonito,
O que não se lembra mais,
O que é só capítulo.
Como um livro,
O filme da vida é fluido,
segue em frente,virando páginas.
E assim deve ser, ainda,
O que passou: Escondido
Numa caixa de sapatos,
Ou num “pen drive” antigo,
Pra ser um dia revisto
Redescoberto com susto,
Alegria ou alívio.
Caixinha de sapato,
Para o que é passado,
Para o que não é mais retrato
Do fato, do agora,
Do sentido.
Pra quê pendurar o passado,
Como um colar ou brinco,
Todo o tempo à mostra
Como um retrato?
Se já foi, se só é história,
Se é parte do relato
E jamais torna?
Caixinhas de sapato
Para as memórias,
Para os jornais,
Para os suspiros.
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