segunda-feira, 7 de abril de 2014

Em Paris

Um homem defecando no meio da rua
Sem calças, nu abaixo da cintura
Não se agacha, facilita estar a meio corpo
Sequer olha para o lado, seu lugar é a rua
Não há banheiro pra turistas, que dirá para esses tipos
Enoja os passantes, os leitores
Primeiro aquele espanto, depois o horror de encarar
As fezes de outro a desbundar
O deslumbre de Paris
Com seus prédios médios de janelas grandes da Belle Epóque
Retrato da opulência e arrogância
Disfarçadas na elegância
De Paris
...
Sim, ela é linda
Ela brilha como ouro aos olhos do sonhador
Sim, vê-se a Torre a milhas
Há pontes, há o Sena, a Monalisa
Mas alguém tinha que fazer esse serviço
Cagar na cara do turista, do parisiense, desta Europa rica
E devolver um pouco da bosta toda que ela espalha pelos continentes
Há séculos e séculos atrás
E continua
...
Tem gente sobrevivendo do comércio de bugigangas em Paris
Gente morando nos buracos esquálidos dos metrôs de Paris
Urina pelas escadas, quantas escadas, do metrô repudioso de Paris
...
Ainda que se acendam mil luzes
E que se veja a Torre a mil milhas
Nada apaga esse ar rude
Que não considera necessidades primárias
Que iguala o homem mais glamuroso e perfumado
Ao mais pobre e coitado
...
Aquele homem e sua bunda suja
E o excremento que a todos enoja
Mas que sai de dentro do corpo humano
De todos, humano
...
Aquele homem e sua coragem
E sua loucura e sua vontade
Manchando a honra da Cidade Luz
O perfume francês da Champs-Elyssés

Não me sai da memória.

L.G

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