quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

INGÊNUOS

Tu olhas pra mim e desdenhas
Já não sou tão bonita amassada
Com sono, com fome, prenha
Eu já não sou a mesma, tu lamentas
É todo dia a mesma coisa, o mesmo lenga-lenga
Os lençóis nos envolvem
E a gente acorda ébrio um do outro:
Maldita intimidade!
Varro teus pentelhos e tu recolhes minhas unhas
Insultos cara a cara, olhos nos olhos
Verdades face to face. - Pra quê?
Só quero mesmo te comer
A gente almoça e passeia
As mãos de um no outro
Com carinho, depois com desejo
Já não nos lembram, os desaforos
Teus olhos doces iluminam-me o rosto
E teu corpo me acolhe qual um cobertor
Tu te refugias em mim, dentro
Onde não há palavras e nenhum argumento
Que me desabone
E então eu te amo! Sou, eu, a perfeita
Sua musa, seu tesouro – perdoe-me!
E não me importam teus cheiros, teus hábitos
Teus pêlos pela casa
Sou tua estufa então, e vem-te a vontade
De, em mim, cultivar flores
Orquídeas de todas as cores
Pinheiros sem folhas, imensos e eretos
Pelo horizonte
Beija-me com hálito de álcool
Quer que eu seja tua casa
Rodeia-me de águas; tua ilha particular
Levanta teus tijolos, repleto de sons e doces
E me exalta: Rainha!
Até que eu fale e volte a ser
Só uma mulherzinha arrogante e difícil
Sozinha aos trinta e cinco
Ninguém te pode suportar! Você manda demais!
E eu acho lindo teu jeito mau
E dou-te um beijinho
Pelo chão se espalham as ruínas
Da casinha que levantávamos
Com ímpetos de adentrar ao céu, num vôo
Como um passarinho destemido
À procura do êxtase infinito
No buraco negro do amor

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