domingo, 11 de julho de 2010

Outro de mim




Há pessoas que têm medo de palavras. Medo de palavras feias, de palavras que machucam, de palavras que transmitem sentimentos de dor, de mágoa ou de luto. Como se não pudessem lê-las sem perder a capa que as protege dos sentimentos ruins. Como se não pudessem ouvi-las e continuar a seguir sendo elas mesmas. Há pessoas que preferem não ver e não ouvir. Sou assim também, às vezes. Mas gosto tanto de escutar como um poema, uma história, uma canção, podem dizer tanto sobre um sentimento que às vezes não conheço, mas que reconheço como se o tivesse vivido. E quando já o vivi então, é como se encontrasse um abrigo, como se reconhecesse que existo, que faço parte desta espécie tão ambígua, tão cheia de tampos e vigas. Ouço falar da saudade, na música de Chico, e sei que, mesmo se nunca a tivesse sentido, saberia o que significa, com o fundo de minha alma, com minhas lágrimas mais escondidas. E não me assusta a tristeza, a dor, o amor, a loucura. Assustar-me ia se não fosse da natureza deste ser que é você e que sou eu. Mas se todo mundo é assim, por que não tocar e sentir, por que não ouvir, por que não se ver nas palavras que sangram ou sorriem? Por que não se abrir pra todas as sensações de que se é capaz sendo assim: de carne? Não gosto do que é triste, mas gosto de sentir que sou igual a outro de mim, às vezes desejando o fim e às vezes imensamente capaz de persistir.

2 comentários:

  1. Gostei, Lari! Estava com saudade das sua postagens... Acho que elas não estão aparecendo no Facebook... É isso? Também gostei do próximo, dos cachos. Perfeito... Parabéns! Beijos

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  2. Gi, vou verificar o Facebook, mas era pra aparecer... Obrigada, lindona!

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