segunda-feira, 24 de outubro de 2016

folha de calendário que cai

Andando
Pé ante pé
Seguindo
Caminho
Estrada qualquer

Sem rumo
Sem meta
Sozinho(a)
Sem trilho
Direção

Seta, destino
Eira, beira, carinho
Só indo
Adiante
O horizonte

Vai nessa
A vida é assim
Sem sentido
Fim
Conclusão

Só girar as rodas na estrada
Outro aniversário chega
- folha de calendário
Que cai
Mais um dia.

Cruza os dedos desta vez
Dobra os joelhos em prece
Empalha o coração solitário
(Vale mais
Em silêncio).

L.G.

às vezes basta visitar um outro lugar

dar chance pro sol entrar na vida

dar chance pras cores pintarem o dia

de uma esperança qualquer

às vezes basta andar por aí

mas há que se ter a cabeça erguida

porque as belezas não avisam onde estão ancoradas

a vida está em toda parte.

(texto de Lári Germano
tela: Pourville, de Claude Monet)

Amor livre

Sou adepta do amor livre. Amor livre de sacanagem. Amor livre de mentira. Amor livre de manipulação. Amor livre de traição virtual. Amor livre de abuso psicológico. Amor livre de cultura machista, em que homem pode o que mulher não pode. Amor livre de hipocrisia com relação ao amor livre. Amor livre da utopia de que o amor nasce pronto. Amor livre da falta de entrega. Amor livre da falta de cuidado com o outro. Amor livre da falta de cultivar o desejo (próprio e do parceiro). Amor livre de "amigos(as)" com segundos interesses. Amor livre de preguiça de amar. Amor livre de conceitos vazios. Amor livre da falta de empenho. Amor livre da carência de alegria. Amor livre de sentir ciúme (e de plantar ciúme). Amor livre do excesso de regras. Amor livre de tanta etiqueta. Amor livre da confusão entre a vida e o Facebook. Amor livre do que parece, mas não é amor. Amor livre pra amar uma pessoa apenas. Amor livre pra ser brega o quanto queira. Amor livre pra ser completo, ainda que contrário à a moda.




lAri G.

Gosto mais da doçura. Eu sei que a austeridade, a disciplina e a ordem são necessárias para o progresso, fazem parte do trabalho, da batalha.
Também que na maior parte das vezes não é recomendada a abertura por onde emana e retorna o sentimento - coisas d'alma que batem com a própria essência do ser tem lugar e hora. (É indicado o uso de máscaras, antes de tudo, educação).
Mas ainda prefiro a doçura.

lAri G.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Etiqueta

(A Manoel de Barros)

Aprendi
A dizer nada
Ficar calada
Concentrada

Muito tempo
Estive às falas
Às favas
Do mundo

(que ria das minhas misérias)

Coisa de poeta
De gente sem noção
Que pensa/que vive
No interno (no inferno)

Encontrei já velha
A máscara
Que todos querem
(uns usam, uns não

- TODOS PREFEREM)

Quem quer a verdade
Quem suporta a verdade
A intempérie
A tempestade?

Vou fazer novos poemas
Sobre o esforço de não ser
O sigilo, a escusa
O secreto, a concha

Poemas sobre o essencial
A polidez admirável
A adequação bem vista
A distância recomendada

Ninguém pode com a verdade
Verdade sem modos
Sem rédeas, sem travas
Educação, religião

VERDADE É COISA PRA CRIANÇA E BEM-TE-VI.

(bem dizia Manoel)