Sicrana.... vem cá! Senta aqui um pouco com a gente. Tá cansada, é? Tadinha... Tão estranhazinha. Reclusa. Ô sicrana, por que és assim, hem? Esse seu jeito acabrunhado, que não combina com ninguém. Por que vens mesmo assim, hem?
Sicrana tinha um jeito caipira, de bocó, de quem nunca sabe o que dizer e morre de vergonha. Vinha de uma terra de pó vermeio e poeira. De um tempo em que se pedia benção ou se apanhava de cinta. A sicrana era branquinha, mas tinha os cabelos de ferro, como os de uma negra.
Sicrana não se aprumava, estava sempre calada, sempre com falta de assunto e por tudo chorava. Inda mais se alguém perguntava por que motivo aquela cara.
Sicrana queria um buraco, pra se enfiar bem fundo. Queria um lugar escuro pra estar em paz. Sicrana estava à vontade no canto, no mato. Não gostava de luz branca, nem de muito barulho.
Preferia ficar ao ar, da natureza junto. Porque esta sim valia aquela tola lida: estar ao vento ou lavando a roupa com água de mina. Um cachorro latindo lá longe, uma galinha perdida pra espantar do caminho.
Sicrana vem jantar, sicrana vai à missa, sicrana vem cumprimentar e servir as visitas.
Sicrana insistia consigo, queria estar com os pares. Mas toda vez que tentava, era um tal de o que é que há, era um tal de o que é que tem, era um tal de vamos falar, está com dor, tá tudo bem, que logo ela desistia e queria ir correndo pra casa. Regar as plantas, chorar as mágoas, sem cogitar mais nada.
Sicrana não entendia pra que tanto assunto, pra que tanta prosa, piada. Sicrana escutava ao longe, por trás dos morros, entre as árvores. Sicrana não precisava explicar todo o tempo tudo.
Sicrana era mal vista, tomavam-na por atormentada. Mas ela pensava que era qual uma cabra, uma ovelha. Como esses bichos que só vivem e pastam, sem mistério, sem porquê. Sem conversa, troça, baile, namoro, dor, adultério.
Sicrana às vezes queria ser como Fulana de Tal. Usar vestido e maquiagem, passar creme, ser assediada. Mas por mais que quisesse, não era do seu feitio dizer tanto, querer tudo.
Sicrana bem no fundo gostava de ser um bicho do mato. E via as coisas de fora, como se as visse do alto.
Amei essa sicrana. Linda.
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