Você chora sem saber por quê
A madame sofre sem nenhum motivo
O adolescente quer o que não tem
O neném resmunga pedindo por leite
Aqui, ali, em todo lugar
Falta em nós sempre alguma coisa
E assim é porque no mundo inteiro
Ainda abunda o que fere e é feio
Enquanto neste aqui ou n’outro canto
‘Inda houver fome, angústia, desalento
Mesmo você que está longe de tudo
Irá sentir um buraco no peito
A humanidade é um organismo imenso
Se qualquer parte dele adoece
Também padece o que resta ileso
E é por isso que o rico e aquele
Que mora em um lugar desenvolvido
Por dentro chora, mesmo indiferente
E sente em si um vazio latente
Enquanto houver em cada continente
Quem não possua em casa alimento
Ou mesmo água a sair da torneira
Quem sinta dor e nenhum cuidado
Vindo de médicos ou do Estado
Ainda haverá no mundo tristeza
E em cada homem uma incompletude
Lágrima que não se sabe d’onde veio
Uma chaga aberta que na alma aumenta
Pois desconhece a causa matreira
Quem não reflete bem o universo
E ignora nossa natureza
: Que cada ser humano é uma célula
Parte pequena de único corpo
De mesma importância - equivalência
Torne-se a Terra um lugar equânime
E então será a alegria inteira
E a felicidade que tanto sonhamos
Não mais apenas uma passageira.