sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Olhos de através.

Olhos de através.
O que você vê?
Vê somente o que vê ou vê além? Ou vê adiante, através?
É capaz de ver os porquês, o que há por trás? De conhecer alguém? De interpretar? Os silêncios, os traços do semblante? Os suspiros, as passadas, o ar expirado de maneira diferente?
O que você vê?
Eu procuro ver adiante. Mas isso é porque eu tenho a alma de poeta e a mente de um pretenso intelectual, que nem chego a ser. Que nem chego a ser metade.
Estou triste hoje.
A maioria das vezes que escrevo, estou triste.
Os artistas são melhores sendo tristes. Não sou artista, mas pretendo ser.
Um dia, quem sabe, talvez.
Quem só vê o que vê, não conhece. Não percebe. Não atravessa.
Sempre raso...
Cativante talvez, mas raso... sempre raso...
Só queria ficar aqui dentro.
Rever tudo. Com meus olhos de através.
Já que não posso nascer de novo. Rever tudo o que me sobra: meus amores, meus sentimentos, minhas previsões, meus pressentimentos, minhas lembranças, meus raros momentos de adequação.
Minha ilusão de ser diferente.
Meus olhos de além.
Só pra pensar que valho mais que nada.
Num outro plano, talvez.
Olhos de através.
Só, mas nunca rasa.

Puramente triste.

Sou estranha.
Eu sei.
Mas, no fundo, não sou.
Só carente, ensimesmada.
Apenas isso.
Reservada.
Um pouco insegura.
Outro de arrogante.
Um pouco de triste.
Um pouco de boba.
Muito de solitária.
Mesmo quando sorrio, me sinto só.
E, sempre, incompreendida.
Queria sonhar com flores e descansar, de verdade.
Queria ser uma presença que se deseja.
Mas sou só eu e só.
E este sentimento é um dos piores que já senti.
Mas o pior de todos? A humilhação. A vergonha.
A vergonha queima mais que o ódio.
É parceira do desespero.
Prefiro a todos estes sentimentos, estar triste.
Ser triste. Puramente triste.
Ainda é melhor ser triste que envergonhar-se, sentir-se humilhada, rejeitada.
O desespero... dilacera.
A tristeza é só o opaco.
As cores fugindo da tela.
A vida se despedindo.
Vamos dormir.
Com os anjos. Com as flores.
Campos de flores desesperadas, amarelas?
Não! Flores violeta e branco, que exalam perfume ao anoitecer.
Flores doces e femininas que abrem, à noite, seus aromas.

A vã psicologia

Têm coisas que a gente precisa esquecer.
Não acredito na psicologia.
Nas idênticas soluções da psicologia.
O que é certo?
E o errado?
Qual melhor parâmetro que o amor?
Como não considerar o magnífico da vida?
O misterioso?
O supremo poder, maior do que tudo, que, único e soberano, rege todas as coisas?
Não acredito em psicólogos.
Nem em uma razão que não seja magnífica.
Não sou nada no mundo.
Absolutamente.
Mas dentro de mim há a mesma arrogância de meus primórdios. De ser especial.
Todo mundo é especial.
Mas eu, aqui em mim, penso na escritora que “sou”, na filosofia que me rege, nos meus “conceitos”.
Continuo assim.
Será que ainda há tempo de tornar-me algo?
Assisto a filmes e leio “trechos” de livros.
Não assisto a jornais ou leio notícias.
O que aconteceu com quem eu deveria ser?
Me perdi no amor.
Minha alma de poeta.
Minha fragilidade.
Tanta carência.
Perdida no amor.
Sem recuperar ninguém.
Sem frutificar.
Sufocando meus amores, que querem ser eles mesmos apenas.
Enquanto eu quero que eles sejam o que eu quero, eles só desejam ser livres.
E eu? Desejo viajar, descansar na areia da praia.
Desejo espaço pros meus sonhos. Ser querida. Ter amigos.
Mas sinto cada vez mais que só tenho a mim.
E só sonhos. Muitos deles. Infinitos.

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