terça-feira, 30 de setembro de 2014

enquanto você estava calado era como se você não tivesse existido
não como se estivesse morto
mas simplesmente como se nunca tivesse havido você, e o que eu lembrasse fosse inteiramente imaginação ou sonho

continue calado
eu prefiro
eu prefiro escolher um por um os capítulos e abstrair de ti a voz e qualquer trejeito que não condigam com o que eu quero lembrar
prefiro o pensamento
o efeito do tempo que age e cobre as coisas com filtros Instagram: amarelo de foto antiga, plácido preto e branco ou cores vivamente impossíveis

continue calado e deixe aos meus ouvidos a música que lhes interesse ouvir
aos meus olhos, os olhos em que desejem incidir
à minha memória, o formato sem oco da sua presença fictícia

continue calado e quieto
e deixe que meu coração ame o que não existe
o que nunca talvez tenha sido outra coisa senão um perfume, uma sombra, uma dúvida perdida entre as frases, uma vírgula que se omite entre os versos.

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